sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

CEM TIDOS



Como não conseguia eliminar a dúvida de sua vida, ele inventou a certeza que diariamente era desafiada pela falta de sentido que o atropelava. Para contornar tal situação, lançou mão da fé que inflava seu ponto de vista sobre o mundo, transformando-o numa certeza. Daí em diante, tornou-se uma máquina produtora de sentido. Qualquer coisa que passasse diante dos seus olhos ele conferia um sentido para ela, sempre de acordo com seu ponto de vista. Nada ficava impune a ele. Quando mais interpretava, mais se sentia  cheio de si.
Este pobre coitado era arrogante o suficiente para não perceber que era sua fraqueza, e não sua arrogância, que o fazia sentir-se o discípulo escolhido de seu Mestre.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

BLACK BLOCK (BB)



“Eles são um câncer”! Este foi o nome usado por David Graeber do Wall Street Journal, para nomear os Black Blocs. Aqui, a imprensa os chama de vândalos e anarquistas.  Em 1963, George Lapassade escreveu um texto que levou o nome “Rebeldes sem Causa”, que foi publicado em um trabalho denonimado “L' éntrée dans la vie: Essai sur l'inachèvement de l'homme” (A entrada na vida: um ensaio sobre a incompletude do homem).

A inadaptação de parte da juventude à vida coletiva e sua oposição ás condições de existência dita “adulta” manifestaram-se sobretudo nos países mais industrializados no mundo contemporâneo. Assim, Lapassade analisa de que maneira a INCOMPLETUDE marcou a vida destes jovens a ponto de faze-los deixar suas casas para irem protestar nas ruas.

Lidar com o impacto que a INCOMPLETUDE causa sobre o sujeito, deixou de ser um fator de preocupação do estado, que passou a tampona-la com o lucro e o consumo. Fato é que, a rapidez com que prenderam e ficharam os dittos BB, dão mostras de que o estado pode, quando lhe interessa, prender quem danifica seu modo de operar com o lucro e o poder. Mas por que os policiais que mataram Amarildo ainda estão soltos? Por quê os mensaleiros ainda não estão na cadeia? E os corruptos?

A lei de segurança nacional foi acionada, policiais cavaleiros vestidos de cinza saem pelas ruas defendendo a sociedade. O modo superficial e odioso usado, pela midia e pelo estado, para retratar o que está acontecendo, denuncia a estratégia perversa na qual culpabilizam os BB por danificarem o patrimônio que está sendo danificado e delapidado anos a fio pelos representantes do estado e da sociedade civil.

“Os revoltados sem causa não são revolucionários; não têm um programa visando explicitamente a mudar uma ordem social. Não são tão pouco delinquentes de tipo tradicional: não procuram essencialmente aproveitar-se desta sociedade, da qual eles destroem as’ riquezas’ e símbolos.” Deste modo, Lapassade sinaliza o que estaria acontecendo com estes jovens. O estado nunca foi um bom ouvinte, e por não sê-lo culpabiliza, acusa e criminaliza bodes expiatórios da prórpria depreciação que realizada com o respaldo da lei e da midia.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

CONSUMO TENDÊNCIAS


No próximo século, os consumidores serão feitos da mesma matéria da qual são feitos os produtos. Plástico importado, e estilista de primeira serão aquele que deixarão você consumidor, do modo que o fabricante deseja. Seja o primeiro a entra nesta, turbinando seu tipo sanguineo substituindo-o pelo melhor polímero da praça.

ALEGROTOM



Nós devolvemos a você a alegria que o estado e o banco lhe tiram todos os dias. Basta um comprimido pela manhã e um outro a noite, para que você sinta os efeitos na primeira semana de uso. Rapidamente você encontrará alento nas novelas, no shopping e descobrirá em cada "outdoor" a alegria que estava faltando em sua vida. Pensando em você, nosso trabalho nos torna pessoas melhores. Alegrotom não é remédio, ele é a solução para quem deseja estar feliz neste mundo. Procure um representante mais perto de você.

FANTASMA


Se o olhar de uma mulher avança dentro de um homem, tocando-o lá onde ele deve saber-se, fazendo-o vacilar, é porque ela duvida do amor que ele sente por ela, sem saber que seu olhar despertou nele o temor que sentiu de estar nas garras da própria mãe. Diante deste impasse, resta a ambos dar um passo atras face ao imaginário, para que possam desfazer o nó do desencontro, assumirem a autoria da própria vida, reinar sobre os fantasmas, liberando-se para que o encontro aconteça e os surpreenda.

domingo, 22 de setembro de 2013

A MATEMÁTICA E A LEI


Usar a LEI como se fosse uma fórmula matemática, que funciona para toda e qualquer situação na qual tal fórmula foi inventada, é tentar embrulhar o tolo nas próprias ilusões que cria para poder viver. Inventa-se o conceito de 'embargo infringente', pensando-se no beneficio que o autor da lei terá. Tomar como argumento o estado de direito, dissociando-o da situação sobre a qual legisla, fazendo-o mais relevante do que a própria situação, é subverter a ordem dos fatos que levaram o legislador a criar a LEI. Leis não não fórmulas matemáticas, estão muito longe disto. Considera-la isenta e acima do fato que a gerou, é beneficiar o criminoso, transformando-o em um sujeito melhor do que ele é. Nestes termos, a LEI descriminaliza o crime, favorece o criminoso e derrota a JUSTIÇA. A LEI é um instrumento da JUSTIÇA e não o contrário como aconteceu ontem no Supremo.

QUE ACORDO SUSTENTA ESTE SORRISO?


Celso Mello, do alto de sua mortalidade, diz: "julgamentos do STF para que sejam imparciais, isentos e independentes, não podem expor-se a pressões externas, como o clamor popular e a pressão das multidões." Antonieta, a Maria mais conhecida na história do pão disse algo parecido: "Diante do clamor popular pelo pão, de-lhes brioche."  Diferente e semelhante a Antonieta, Celsão não foi eleito pelo povo, "cependant", o que aproxima de Antonieta, mas circula entre mensaleiros, que lá estão, porque saíram das urnas, "et que donc" dependeram da multidão para votar neles.

A linguagem é notória por sua capacidade de criar mundos, inventar conjecturas e permitir que o sujeito se esconda atras dela. O querido Freud, sabendo disto, aproximou a linguagem da lei, apontando o ACORDO que tem que ser feito para que o sujeito, ao falar, não fale do que se passa dentro de si para dizer o que diz. A lei, como a palavra, protege o sujeito de si mesmo quando o livra de suas próprias pressões. A pressão das multidões é o que coloca Celsão próximo do que há de mais sujo, nojento e "eschatologique" na "corte" que transita pelos PALÁCIOS de Brasilia. Não se submeter a tal pressão, é negar que seu salário é pago pelo sujo, pelo popular, como uma tentativa para se afastar da "sujeira" com a qual convive diariamente na "corte". Ela que se sustenta no que há de mais perverso e sórdido: roubo, desvio de dinheiro público, uso do estado em benefício próprio. Por esta razão, seu dito esconde a pureza reivindicada através da imparcialidade, isenção e independência da lei. Assim, ilusoriamente, se sente salvo da lei do desejo que o coloca dentro da sujeira com a qual convive diariamente. Uma vez sentindo-se purificado, sorri.

domingo, 1 de setembro de 2013

TEMPO






O tempo não nos reinventa, apenas revela um pouco mais sobre quem somos nós.

MULHER




Nela há mais coisas do que o temor que me gera e que diz respeito mais a mim do que a ela mesma. Ela não vive em qualquer mulher, apenas naquelas que se sentem confortáveis dentro delas mesmas, que não se afligem de ver outras diferentes de si e se dispõe a amar sem julgamento ou controle.

VERDADE E HIPOCRISIA




Shakespeare, disse que o diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém. Contudo, com a crítica a verdade, feita no final do século XIX, percebe-se que a recíproca da frase de Shakespeare também ocorre. Ao ser desbancada, a verdade levou consigo a hipocrisia. Não somos tão bons, nem tão maus como pensamos, mas podemos ser ou deixar de ser perversos, quando evocamos a hipocrisia ou a verdade para nos referirmos a algo.

PODER E LABIRINTO

Minos, para manter-se no trono precisava combater seus irmãos. Cada poder, para sustentar-se, usa ardis. Minos pede ajuda a Posseidon, que lhe envia um touro branco, como sinal de apoio. A esposa de Minos, enfeitiçada por Afrodite, se apaixona pelo touro, e se traveste numa vaca, fabricada por Dédalo. Parsifae copula com o touro e dá a luz ao Minotauro. Minos convoca Dedalo, um exímio artifice, para construir um local onde o Minoutaro viveria. Assim, foi erguido um labirinto.

O mundo em que vivemos se transformou num enorme labirinto, construído para manter o poder da esquerda, da direita, do centro e tantos outros. Irmãos tomam partido contra irmãos, e se tornam inimigos. O Minotauro servia para comer os inimigos de Minos, ele devorava humanos, apenas. O que são as ideologias senão devoradoras de juízo?

Dédalo cria um labirinto no qual verdade e mentira deixam turvo o juizo daquele que não sabe que direção seguir. Devotos de Minos o defendem enquanto opositores são devorados. Quem crê em Minos, se distancia da fraternidade e não vê as alianças e traições, em torno das quais se constituiu e se manteve seu governo. Não existe estado sem labirinto, sem Minotauro, sem Parsifae, sem Minos ou Dédalo.

Afora isto, as ideologias, sejam elas de que ordem for, são representantes de Posseidon, que exigem governança em detrimento dos interesses comunitários. O tempo não nos reinventa, só serve para revelar um pouco mais sobre nós mesmos.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

NASCER


Em um dia qualquer, se nasce como se pode morrer. Para atenuar o impacto causado por esta constatação, o sujeito comemora, acreditando que um dia qualquer, tornou-se especial por esta razão. Transformar o ordinário em especial, parece que tem sido uma das atribuições da cultura, que se torna ordinária quando elimina de si mesma o banal, a falta de sentido e a pequenez inerente a todo aquele que nela nasce e morre.

É POSSÍVEL


quarta-feira, 31 de julho de 2013

ESCRITORIOS






HÁ VIDA ALÉM DOS ESCRITÓRIOS, MAS TEMOR DO DESEMPREGO O FEZ SE ESQUECER DISTO.

COTIDIANO



- A guerra acabou! Por quê esta expressão?
- Porque ela me tirou a esperança, deixando este gosto amargo nos olhos, por meio do qual passei a ver o coração dos homens. Os que sabem amar não querem o poder, mas os que não sabem, precisam dele para serem temidos e amados por isto.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

segunda-feira, 10 de junho de 2013

O SENHOR DA NOITE





O desaparecimento da neblina deslocava minha imaginação para os meus sentimentos. A cidade se impunha, me obrigando a vê-la como ela é. Isto acontecia nas manhãs em que o sol não se furtava de sua presença. As estátuas deixavam de ser pessoas, retornando a pedra fria. Mais um dia começava, e eu percebia que não era feito só de luz.

SN

sexta-feira, 7 de junho de 2013

DESAMPARO E D-US

Há quem diga que D-us é uma invenção do homem. Para os que pensam assim, tal criação é fruto do sentimento de desamparo que assola a todos. Este sentimento deve ter tido um impacto significativo sobre os humanos, pois ao inventarem D-us o fizeram grande e poderoso.

O desamparo poderia ser atenuado, se os homens pudessem estabelecer uns com os outros relações de solidariedade, cumplicidade e confiança. O desejo de estar amparado, nos levou a inventar a família, bem como, as crenças de que apenas ela estaria autorizada a formar vínculos de confiança, respeito e compromisso uns com os outros.

Ao escolher o caminho que tenta levar o sujeito ao encontro de um Pai poderoso, que o amparará e protegerá, perdeu-se a possibilidade de viver uma vida onde o amparo pode ser encontrado nas amizades sinceras, comprometidas com a alegria e o bem estar de todos. Talvez, tenha sido por isto que Freud disse que a principal causa do sofrimento humano vem das relações pessoais. Haja vista que, o desamparo aumenta em muito as expectativas que cada sujeito cria com aquelas e aqueles com quem se relacione.

Poderíamos ter inventado sociedades cujo eixo estivesse comprometido com o amparo e o bem estar de todos, mas nelas, o lucro seria de todos, e não, apenas de uns poucos como acontece nas nossas.

SN


quarta-feira, 22 de maio de 2013

MEDÉIA

MEDÉIA: 

- "A mulher é comumente temerosa, foge da luta, estremece à vista da arma; mas, quando seu leito é ultrajado, não existe alma mais sedenta de sangue.
Eurípedes

"MEDÉIA é um filme sobre uma mulher que decapita seus irmãos, esfaqueia crianças e as envia em chamas, para a esposa de seu amante. Callas fará isto com naturalidade."
Pasolini.

MINOTAURO E PICASSO.



Depois de descumprir o pacto firmado com Poseidon, Minos é traído por sua esposa que, por conta de Afrodite, se enamora do touro branco dado a ele pelo deus dos mares. Nasce Minotauro, filho de Parsifae. Rebento de umaninal com uma humana, o Minotauro comia humanos quando sentia fome. Diante disto, Minos chama Dédalo, o arquiteto, para construir o labirinto onde o Minotauro seria colocado. Picasso em diferentes momentos de sua vida se comparava ao Minotauro, sentindo-se identificado por ele. Vendo a Guernica no Reina Sofia, entede-se de onde ele partiu para compor cada umas das figuras que fazem parte do quadro, bem como do conflito que o teria levado a pinta-lo.

SN

quarta-feira, 15 de maio de 2013

SAÚDE MENTAL = ELIMINAR O COLETIVO

Enquanto se mantiver a crença de que a saúde mental depende exclusivamente do sujeito, sem relaciona-la ao tipo de sociedade na qual ele vive, todo sentimento ou comportamento será classificado como doente. Já se foi o tempo em que se acreditou que apenas o prazer nos livraria da loucura, pois nunca existiu uma sociedade tão permissiva quanto a de hoje, na qual prazer e felicidade são sinônimos, mas que mantém ao lado disto, altos graus de indiferença social. Existe patologia maior do que esta?

SN

SHAVUOT - MIDRASH 5774


NÃO ROUBARÁS. 

Shavuot é o segundo dos três maiores Dias Festivos , e acontece  cinqüenta dias após Pêssach. A Torá foi entregue por D'us ao povo judeu há mais de três mil e trezentos anos. Todos os anos, neste dia, renovamos a aliança feita com Ele.
A palavra Shavuot significa "semanas": assinala sete semanas entre Pêssach e Shavuot (o período do ômer), durante o qual o povo preparou-se para a receber a Torá. Durante este tempo, elaborou o significado das cicatrizes deixadas pela escravidão, usando-as como elementos em torno dos quais uma aliança se fez. 
Shavuot também significa "juramentos". Com o recebimento da Torá, o povo e D'us trocaram juramentos, formando um pacto duradouro de não abandonar um ao outro.
O PACTO tem o mesmo significado que ALIANÇA, no sentido de acordo entre duas ou mais partes, cujo objetivo é o bem comum. Os estudos sobre o PACTO são antigos.

A aliança ou pacto simboliza acordo, tratado, contrato, união entre duas partes. Ela é uma exteriorização de algo que se tem no coração, ou seja, é a maneira de materializarmos sentimentos, convicções, responsabilidades e compromissos.

Para compreendermos o que significa um pacto ou uma aliança com D-us, devemos lembrar que o elemento comum entre os patriarcas foi o pacto com Deus, no qual se estabelece o compromisso mútuo, que se ratifica a cada geração, na transmissão de valores existenciais.

A aliança é muito mais do que um contrato ou acordo. Contratos têm períodos de vigência, enquanto o pacto ou aliança é um acordo permanente.

Um provérbio que aparece em Ezequiel e Jeremias, diz que “Os pais comeram uva verde e os dentes dos filhos é que ficaram embotados.” Em diferentes passagens da Torá, encontramos mencionadas as consequências que se seguem quando se dá a quebra da Aliança. 

O castigo pode ser entendido como tentativa através da qual a quebra poderá ser inibida. Como se existisse uma tensão, a priori, que pudesse fazer rompe-la. O que brota de dentro de nós e não tem nome, encontra na palavra um representante que atenua a inquietação que isto gera. A excitação sem nome, faz uma aliança com a palavra e nela funda uma outra ordem.  Quando isto acontece, falamos e desta aliança, criamos mundos.

O sagrado se faz representar como aquele que promove a aliança entre excitação e palavra, da qual nasce um sujeito no mundo e é parte deste mundo. Um sujeito que ganhará um nome e com ele, fará parte da comunidade que nasce para receber e celebrar esta aliança.
Só existe BERITH na presença de MILÁ, pois ela reprenta a marca, aceitação e gratidão por esta aliança. De Noé a Abraão, o NÃO é expressão de MILÁ. Quando ela se faz, é possível ver nascer um sujeito que se liga as palavras e sai da condição do que em si não tem nome.

No latin, BURGATOR quer dizer ladrão e BURGARE, significa quebrar, irromper, roubar. O ladrão é aquele que por meio do ato quebra a aliança entre a palavra que o diz e o que que ele não soube nomear em si mesmo.

O Alcorão prescreve um castigo para quem rouba que corresponde a decepar a mão do ladrão ou ladra. Contudo, menciona também que o culpado pode ser absolvido por D-us. A etiologia aponta como um significado possível para a raiz da palavra arabe que designa castigo, como sendo também quebrar, triturar . Existe algo mais grave do que praticar o roubo: ir contra a Aliança com D-us que cada mandamento estabelece. Novamente a aliança é colocada em questão e para tanto, se fala do ladrão e de seu castigo.

No hebraico encontramos a palavra GUENIF/ GUANAF, usada para se referir a roubar, furtar e GUENAI para se referir a vergonha, desgraça. A letras GUIMEL que é usada para compor esta palavra, traz como um de seus significados, a busca de recompensa e punição no mundo físico, que nos leva a pensar em Adão e Eva. E a letra NUM, que pode ser compreendida como sendo a que representa a queda do altruísmo até a auto-concientização.

A letra BEIT, que aparece no final da palavra representa uma morada para D-us no mundo interior.

Para sermos um, dependemos de alguém que tenha cuidado de nós, alguém que celébre conosco nosso nascimento, inserindo-nos  no mundo das palavras. E D-us disse: “Seja a luz!” E foi luz. A palavra possibilidade, de fazer vingar o que pode fracassar em nós. Ela que se apresenta antes mesmo de termos nascido, nos antecede, guiando-nos onde não sabemos de nós. Sabe bem de si quem se soube pelo amor de quem o acompanhou deste os primeiros dias.

Portanto, NÃO ROUBARÁS de ti a aliança que o constitui, pois se assim fizer, se perderás dentro de si mesmo. Este mandamento tem a função de conter o que existe no sujeito o que pode coloca-lo a mêrce do que ele não sabe existir nele mesmo. É possível cumprir e descumprir um madamento, mas o que deve ser evitado é a quebra da ALIANÇA, do compromisso em nos tornarmos pessoas melhores. Isto só é possível na relação com mundo, nunca fora dele.

O rabino Izchak Zilberstein, da Bnei Brak/ Israel, em um de seus seminários, cita o seguinte exemplo: o que você faria caso descobrisse que seu funcionário mais qualificado está roubando dinheiro ou mercadoria da empresa? E se o valor roubado fosse insignificante frente ao benefícios que este funcionário traz a empresa?

No ano de 2010, a questão 47 do ENEN tratava da seguinte questão: Na nossa sociedade, roubar e mentir na ausência de razões ou motivos suficientemente fortes são consideradas imorais. Suponha, no entanto, que a maioria das pessoas começasse a roubar e mentir sem que houvesse  para isto boas razões e motivos. Neste caso, é possivel dizer que roubar e mentir deixariam de ser imorais?
 
De Noé aos dias de hoje, assistimos uma diluição desta ALIANÇA que passou a favorecer mais ao indivíduo do que ao coletivo do qual ele faz parte. BERITH sem MILA é aquela que o sujeito forma consigo mesmo, para além do nome que o integra a um mundo que o antecede, rico em tradições.

Rouba-se a paz do mundo quando dele se tira o sentido e o significado que tem as ALIANÇAS. Sem elas, a possibilidade de cada um ser dito de muitas maneiras se vai. Pode-se roubar um objeto, mas quando dele se elimina o siginificado, o sujeito e o objeto se tornam um só. Todavia, quando o significado é eliminado desaparece a ALIANÇA que alimenta nossa crença de que podemos ser mais do que objetos. Isto seria o mesmo que transformar o dinheiro em Efker, ou seja, se ele for de todos o roubo deixaria de existir. 

SHAVUOT MIDRASH/ MAIO 2013



terça-feira, 14 de maio de 2013

POLITICA É RELIGIÃO NO BRASIL.



NO BRASIL. cada vez mais o pensamento político se aproxima do pensar religioso, pois assim desejam grande parte dos eleitores e daqueles que os representam. Câmara pode aprovar proposta que dá fim ao Estado Laico no Brasil. Comissão de Constituição e Justiça já aprovou permissão para religiosos interferirem nas leis brasileiras

Se é que existe a laicidade no Brasil, onde, pelo menos teoricamente, a religião não interfere no Estado, ela está para ter seu fim. Isso porque no dia 27 de março de 2013, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou a Proposta de Emenda à Constituição 99/11, do deputado João Campos (PSDB-GO).

Dilma e Lula se tornaram ícones, e nesta condição, servem como ancoradouro para o crente político-religioso. É o que acontece com uma parte dos "ïntelectuais artistas"", dentre outros. Qualquer análise que caia sobre Lula-Dilma é vista como um sacrilégio, um absurdo, uma bobagem, uma montagem que acontece no ciberespaço, porque problematiza o pensamento dogmático e fechado, usado para salvar aquele (ou aquela) que precisa dele.

A idéia de salvação, os bons contra os maus, as vítimas e os algozes, fazem parte de um imaginário limitado usado para proteger uma idealização, seja ela qual for. No Brasil ainda existe trabalho escravo, a miséria se mantém vigorosa, a democracia se travestiu de absolutismo, educação e saude alcançaram patamares vergonhosos. Apesar disto, a crença de que só o PT salva, está ai presente entre eleitores e os que os representam. A esquerda caviar, que vive nas áreas mais ricas da cidade, os defendem por interesses pessoais.

Falar sobre eles se tornou calúnia, heresia e deturpação. Inteligência e criatividade não garantem a ninguém leituras e interpretações que levem o sujeito a perceber a complexidade que sua crença camufla. Por esta razão, quando sente sua crença ameaçada, precisa desqualificar aquele que lhe gerou tal mal estar.

SN

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Mãe

Quando dá certo, esta relação é uma benção, mas quando não, o estrago fica encoberto pela divinização do vínculo.

SN

NATUREZA








Certamente é possível vivermos em um mundo melhor, mas não antes de conhecer a constituição de nossa própria natureza.

SN

domingo, 5 de maio de 2013

PRISÃO CINCO ESTRELAS (foto de uma prisão na Jordânia)


O projeto do deputado Domingos Dutra (PT-MA) institui o Estatuto Penitenciário Nacional e cria a cadeia cinco estrelas. Se aprovado, os presos terão direito a banho quente em locais frios, cela com calefação, academia de ginástica, material de higiene pessoal como desodorante, xampu, condicionador, hidratante de pele e até camisinha. O projeto do deputado também prevê médico residindo no presídio ou próximo. Entre os 119 artigos, chama a atenção o que mantém direitos políticos dos presos e acesso a jornais, rádio, e TV a cabo. O deputado também sugere a criação dia do encarcerado, 25 de junho. Se fosse aplicado hoje, nenhuma cadeia brasileira se enquadraria na lei.

Possívelmente DOMINGOS DUTRA se inspirou no "apart hotel" prisional instalado em uma das mais belas florestas da Jordânia, a Salhoub Heights. A cidade de Salhoub, ao norte da capital Amã, é agora o lar de um luxuoso estabelecimento prisional, com vista para um dos mais famosos pinhais agora ameaçadas de extinção. A prisão, que abriga 60 detentos, foi construída exclusivamente para os funcionários, empresários e figuras públicas condenados à prisão por acusações criminais ou éticas.

Se todo este forço estivesse voltado para escolas e hospitais, seríamos uma outra cultura. Todavia, ser criminoso no Brasil, dia-a-dia se torna uma carreira. Se o sujeito souber investir, poderá obter títulos que irá lhe render consultorias e palestras bem pagas. Finalmente, o criminoso no Brasil terá um dia para ser comemorado, Dutra também pensou nisto. Faça as contas e pense se vale a pena gastar tempo e dinheiro na educação de crianças. No Brasil, cada vez mais, as prisões terão médicos, psicólogos e assistentes sociais, mas nas escolas ...

SN

quinta-feira, 2 de maio de 2013

JUVENTUDE






"Nada é perfeito quando encontrado."

Cícero

NOT A MONKEY

Quando o estudo apropriado do homem deixa de ser o eixo em torno do qual um sociedade se organiza, a estranheza que cada um sente em relação a si mesmo, transborda para as relações com terceiros? 

SN

sábado, 27 de abril de 2013

INTIMIDADE.



O bom marido e a boa esposa existem, mas não duram, assim como o entardecer e o amanhecer. Além disto, tudo o que foi dito sobre eles, foi escrito de dia ou de noite. Bernard Shaw comentou que uma boa esposa é um grande consolo para o homem em todos os contratempos e dificuldades - que ele nunca haveria de ter se tivesse continuado solteiro. Um homem e uma mulher podem fazer mais por si mesmo do que o que foi dito por Shaw. Mas como isto seria possível?
O entardecer mantém uma cumplicidade com o dia e com a noite, como também o amanhecer. Distintos um do outro, homem e mulher guardam, na intimidade, a possibilidade de encontro. Quando se querem iguais, são como dias armados contra a noite, descrentes um do outro. A intimidade vai além do pensar igual, do sentir igual e do concordar. A intimidade se faz sobre distinções que preservam a individualidade de cada um, sem fusões ou controle. A delicadeza da esposa está no modo como faz suas escolhas. Usando a sabedoria de quem conhece a si mesma, distingue o que é seu, do que elegeu no esposo como valioso para si. Por sua vez, cabe ao esposo reconhecer que o tempo passa tanto ele quanto para a mulher que o escolheu. Neste contexto, o erotismo se presta para leva-lo até a intimidade, que sucumbe se ficar retida ao mesmo. A intimidade, por conta do trabalho que demanda, é para poucos. Mas sem ela, homem e mulher ficam a mercê das próprias excitações e dos desencontros que isto gera. A intimidade faz durar o bom entre os não iguais.

sábado, 20 de abril de 2013

"ELES ERAM SIMPÁTICOS, NÃO PARECIAM TERRORISTAS."


Lendo as matérias sobre os irmãos Tsarnaev, penso nos Irmãos Karamazov e no modo como a literatura e as bombas de Boston tem a ver com o pai. O pai Karamazov era um sujeito que só via a si mesmo, se valendo de sua autoridade, justificava todo tipo de perversão. Retratando uma Rússia decadente, sem princípios e direção, Dostoievski mostra que a decadência que se vive se instala primeiro dentro do sujeito, para depois se espalhar para o mundo que o rodeia.

O pai (e a mãe) dos Tsarnaev, disse que o FBI armou para seus filhos. Apesar de ambos estarem armados, trocarem tiros com a policia, matar um policial e roubar uma loja, a mãe diz:"isto é uma armação."

A Tchetchênia, de onde os irmãos saíram, é uma região que pertence a Federação Russa, mas que desejam se separar dela. Isto tem levado a ataques terroristas em várias partes do mundo. No ano de 2002, tchetchenos fizeram 50 pessoas reféns em um teatro de Moscou.

"Eles eram pessoas admiráveis", disse um dos entrevistados. Terroristas e assassinos, não tem cicatriz no rosto, barba por fazer nem cheiram mal. Esta imagem que pertence ao imaginário, se contrasta com a da realidade. Terroristas usam grifes, estudam, trabalham, tem amigos e matam pessoas. Tentar encontra-los em manuais de psiquiatria ou psicologia, é o mesmo que pensa-los fora do cotidiano em que vivem. Existem variações de graus quanto a explodir uma bomba e pintar uma pessoa de amarelo, colocando em seu pescoço uma placa onde se lê escrava, ou ainda, urinar dentro de uma piscina e mandar calouros entrar dentro dela, ou ainda, fazer um juramento negando-o. Mas, entre a bomba e a urina, encontraremos jovens que acreditam na morte e humilhação de pessoas. Isenta-los da responsabilidade pelo que fizeram é negar de que modo a decadência se instalou dentro de ambos. Submeter o outro diante de uma conquista, fazendo-a menor do que é, ou ainda, negando-a, é um ardil da inveja que serve para baixar o temor de se tornar ultrapassado. Isto não é novo, Fiódor Pavlovitch Karamázov, pai de Dmitri, Ivan, Alieksêi e do bastardo Pável, era um homem egoísta, sem princípios éticos e morais, contudo, detentor de recursos que o permitia exercer poder e acessibilidade.

Poder mantido pela inveja de constatar que existe um lugar melhor para se viver, do que aquele onde viviam os Tsarnaev. Um lugar perfeito? Não, longe disto, mas um lugar melhor. O pai karamazov se contrasta como os dos terroristas de Boston. Um exercia sua potência destruindo a vida dos filhos, o outro se fazia menor do que eles, conferindo-lhes atributos que eles não tem: "são inocentes".

Os alunos da PUC/ RJ quando debocham do juramento, bem como, os da UFRJ que mandam calouros entrar dentro de uma piscina de urina, mostram que tem um parentesco com seus primos de Boston. Todos eles descendem de uma linhagem de pais frágeis e que os fazem crer que são melhores do que são. Neste equívoco, nasce uma tragédia fundada no crime.

SN

sexta-feira, 19 de abril de 2013

GERAÇÃO TÔ NEM AÍ.



Veteranos usaram urina em trote de Medicina da UFRJ, dizem alunos. Os calouros carregaram placas com identificações como ‘viadinho tatuado’, ‘chifruda’ e ‘filha do demo’. No ano passado, um estudante virou uma lixeira na cabeça de outro.

Urina, peixes mortos, melância e terra. Essa é a mistura que veteranos de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro colocaram em uma piscina utilizada em um trote do curso ocorrido, há 15 dias, no campus da Ilha do Fundão. Os calouros foram obrigados a se banhar ali, como revelam as imagens publicadas pelo GLOBO nesta quinta-feira (18). As informações vieram de dois alunos que presenciaram o trote, mas não quiseram divulgar seus nomes por temerem reações do grupo de veteranos chamado “Esquadrão de bombas da UFRJ”.

Por outro lado, os alunos do curso de cinema da PUC/RJ que deveriam colar grau neste mês, ficaram sem o diploma por alterarem o texto do juramento. Depois de cada frase, a aluna que fazia o juramento acrescentava, por força de seu impulso criativo, as palavras OU NÃO. Logo, o juramento ficava assim: “prometo exercer minha profissão com espírito de quem se entrega a uma verdadeira missão de serviço, sempre tendo em vista o bem comum, OU NÃO, adicionava ela. Brincadeirinha, comentou um parente próximo.

O Diretor do Departamento de Comunicação Social entendeu que o juramento não havia sido feito. Sem isto, nenhum aluno ou aluna pode colar grau. A reitoria da universidade o apoiou.

Estes JOVENS criativos, liberais, engraçados e devotos de uma inteligência que os leva a passar no vestibular, mas os mantém ligados a um sadismo e dependentes de suas famílias.

Imagine estes pupilos do narcisismo caipira, na cena pública trabalhando.”Deputado, o senhor é' corrupto!”, ao que ele retruca: “ou não…”


quarta-feira, 10 de abril de 2013

O NYLON.



Certa vez, Genet comentou que a violência existe para por fim a brutalidade, que aterroriza e endurece o coração, deixando-o indiferente a qualquer coisa que esteja fora da fronteira da pele. Deste modo, o sujeito vive no mundo como se estivesse fora dele e, neste caso, faz o que deseja sem crítica, compromisso ou bom senso. Como ele poderia conduzir sua vida desta maneira, pois ele não conseguiria sustentá-la apenas com a loucura que o envolve? Para manter-se, precisaria de algo mais. A loucura é o artifício que esconde a crueldade que o constitui. O mesmo acontece com a violência em relação a brutalidade.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

FRAQUEZA



Rochefoucauld comentou que as pessoas fracas não podem ser sinceras, eu diria que principalmente em relação a elas mesmas. Hoje em dia, há possibilidade de dizer-se que se parecem com os delírios e alucinações com os quais me deparei quando conheci os internos dos hospitais psiquiátricos. Era impossível demovê-los do fato de alguns se dizerem Napoleão.

SEMELHANÇA ENTRE ORAN E O RIO DE JANEIRO.


"Oran, pelo contrário, é uma cidade aparentemente moderna. Não é necessário, portanto, definir a maneira como se ama entre nós. Os homens e as mulheres ou se devoram rapidamente, no que se convencionou chamar de ato de amor; ou se entregam a um longo (curto) hábito a dois. Também isso não é original. Em Oran, como no resto do mundo, por falta de tempo e reflexão, somos obrigados a amar sem saber."

A Peste: Camus, 1947

PATERNIDADE NO SÉCULO XXI



Papai sabe tudo (Father knows best) foi o nome do seriado que estreou na televisão em 1954, e que permaneceu no ar até 1960. Um pai querido, sua esposa e três filhos, dialogavam sobre temas cotidianos. Nesta mesma época, um outro seriado chamado Make room for daddy, se popularizou por usar como argumento um pai que tentava encontrar mais espaço no ambiente familiar. Ambas as séries, tratavam com humor temas pertinentes aos valores daquela época.

Trinta anos se passaram, e uma nova sitcom estreou na televisão. Em 1989, Os Simpsons compunham o retrato de uma família cujas agruras eram resolvidas preponderantemente, pela mãe. Dela também faziam parte, três filhos e um pai desacreditado, bonachão e equivocado.
Do Papai sabe tudo até Homer Simpson, a paternidade passou por mudanças significativas em sua concepção, consolidadas pelas inovações no campo da reprodução assistida e as reivindicações dos homens pela guarda dos filhos.
Ao longo dos anos, o pai deixa de ser o ator principal e é substituído pela mãe. Como poderíamos entender estas modificações e que impactos elas teriam sobre as novas gerações?
Muitos tem usado a denominação crise para falar destas alterações, eventualmente até de um colapso masculino. Depositar o conflito sobre os homens, é parte da estratégia de uma sociedade que precisa segregar para avançar.

Por conta disto, a paternidade ficou infantilizada, banalizada ou associada a maternidade. A palavra “pãe”, usada para se referir a homens que cuidam dos filhos, é exemplo disto. Em apenas trinta anos, a paternidade moveu-se de uma posição positiva para uma negativa. Foi criado um manual de boas maneiras para os homens, através do qual eles aprendem como devem se comportar diante dos filhos e da mulher.
Há quem pense que o movimento de mulheres tenha provocado este deslocamento. Todavia, a desvalorização da paternidade tem menos a ver com o movimento de mulheres, do que com as mudanças ocorridas nas bases da reprodução humana. Considerar os homens como inimigos, como dizia Simone de Beauvoir, certamente contribuiu para a desqualificação da paternidade e a invenção de Homer Simpson.
Fora destes seriados, temer o pai fazia parte do papel do filho. As mães inclusive, se valiam disto para que a criança fizesse o que elas queriam: “vou falar com seu pai.” Distante, o pai deveria ser exemplo de um adulto seguro e parcimoniosamente afetivo. Os homens acreditavam que deviam seguir este protocolo, tomando-o como verdade. Todavia, a paternidade transcende a dimensão individual pois situa cada indivíduo em um eixo geracional.
A partir dos anos 60, a imagem paterna começa a ser relativizada. De durões eles são transformados em bobões. A mudança pela qual passou a paternidade teve por base, inicialmente o afastamento do sexo da reprodução, e posteriormente a invenção da reprodução sem sexo. Nesta segunda, precisa-se apenas do sêmen e de um médico. O homem deixa de ser o pai. Nos Estados Unidos, uma mulher que resolve ter um filho, vai a um banco de sêmen e na certidão de nascimento da criança, onde deveria constar o nome do pai, lê-se: D.I. (donor insemination / inseminação artificial).
Liberar o sexo da reprodução, fez com que o prazer sexual surgisse como uma experiência libertária. Mas também foi uma etapa necessária para que a reprodução acontecesse fora do corpo, sem sexo, e com a eliminação da paternidade. Nesta perspectiva, teremos uma geração de crianças sem pai, e segundo o dito canadense: père manquant, fils manque, que quer dizer: quando o pai falta, o filho manca.

terça-feira, 2 de abril de 2013

OS ROCHA MIRANDA, A CHIFON E SUA LOJA NO LEBLON.



A criatura ficou no imaginário como um ser aterrorizante. O criador ficou isento disto. A beleza da criatura está no drama de sua vida, e a monstruosidade do criador, na vaidade daquele que busca méritos e não mede esforços para isto.

Ontem, quando chegamos a delegacia, para prestar um outro depoimento, o inspetor nos falou que o processo que havíamos iniciado, tinha sido arquivado. Nos disse que a delegada não estava. Nosso advogado pediu uma cópia do parecer de arquivamento, para dar entrada em um outro processo junto a Corregedoria, contra a delegada. O inspetor retornou a sala da delegada, que não só apareceu, como disse que o processo não havia sido arquivado. ” Isto foi um mal entendido”, disse ela.

Contratamos um perito civil para inspecionar o local onde a obra está sendo feita. Este perito, bem como, o corpo de bombeiro e a defesa civil, concordam que o corte da laje não poderia ser feito do modo como fizeram os operários da obra. Contudo, a obra continua. Percebi pelo modo como tudo se fazia, e desfazia, que havia algum tipo de interferência, não visível a meus olhos, que dia-a-dia, ia desarticulando nosso trabalho junto as instancias pelas quais transitávamos. A policia, o corpo de bombeiro e a defesa civil, estão mais próximas dos cidadãos, do que a prefeitura. Esta ultima não fiscaliza, e seus prazos para tal, só dão margens para ardis e malandragem.

Diante deste cenário, partimos para o judiciário com uma nova tentativa. Hoje, uma juíza deliberou nova pericia, que nos custou R$ 5 000, 00 , enquanto que, a da policia custou R$ 450,00. Pagamos por ambas. A diferença é que os níveis de influência se reduzem no judiciário.

Já se passaram 5 dias desde que, nós residentes no prédio, onde a obra acontece, nos revezamos para receber policiais, peritos, ir a delegacia prestar depoimentos, ao fórum para despachar com juiz. Na rua um dos lojistas comentou: “vocês não vão conseguir nada. Os donos desta loja são os ROCHA MIRANDA, eles são tão ricos quanto Eike. E os donos da CHIFON, são ricos também.” Isto justificaria a impotência e preguiça para fazer valer seus direitos. Este conformismo chapa branca, atravessa esta cidade de norte a sul, leste a oeste, mantendo tudo como está. Todo mundo reclama, mas não quer resolver seus próprios problemas.

Foi necessário irmos até o judiciário para tratar de uma obra que não foi aprovada em Assembléia do Condomínio, não tem licença nem alvará, não tem projeto de cálculo nem responsável no local, funciona com operários sem carteira de trabalho e equipamentos de proteção. Todos os representantes do estado viram isto, e ninguém embargou a obra. Se existem chances para um cidadão desta cidade, ela está no judiciário, pois os demais seguimentos que atendem a população, estão comprometidos com um outro tipo de trabalho, segundo o qual, só os ricos, influentes e com poder, manipulam como querem.

Quando você abrir uma revista onde vê ricos, influentes e poderosos, pense na relação que cada um deles tem como os problemas que você vive no seu cotidiano. A impotência está associada a admiração que cada um nutre por seu algoz, tomando-o com modelo a ser seguido.