sábado, 27 de abril de 2013

INTIMIDADE.



O bom marido e a boa esposa existem, mas não duram, assim como o entardecer e o amanhecer. Além disto, tudo o que foi dito sobre eles, foi escrito de dia ou de noite. Bernard Shaw comentou que uma boa esposa é um grande consolo para o homem em todos os contratempos e dificuldades - que ele nunca haveria de ter se tivesse continuado solteiro. Um homem e uma mulher podem fazer mais por si mesmo do que o que foi dito por Shaw. Mas como isto seria possível?
O entardecer mantém uma cumplicidade com o dia e com a noite, como também o amanhecer. Distintos um do outro, homem e mulher guardam, na intimidade, a possibilidade de encontro. Quando se querem iguais, são como dias armados contra a noite, descrentes um do outro. A intimidade vai além do pensar igual, do sentir igual e do concordar. A intimidade se faz sobre distinções que preservam a individualidade de cada um, sem fusões ou controle. A delicadeza da esposa está no modo como faz suas escolhas. Usando a sabedoria de quem conhece a si mesma, distingue o que é seu, do que elegeu no esposo como valioso para si. Por sua vez, cabe ao esposo reconhecer que o tempo passa tanto ele quanto para a mulher que o escolheu. Neste contexto, o erotismo se presta para leva-lo até a intimidade, que sucumbe se ficar retida ao mesmo. A intimidade, por conta do trabalho que demanda, é para poucos. Mas sem ela, homem e mulher ficam a mercê das próprias excitações e dos desencontros que isto gera. A intimidade faz durar o bom entre os não iguais.

sábado, 20 de abril de 2013

"ELES ERAM SIMPÁTICOS, NÃO PARECIAM TERRORISTAS."


Lendo as matérias sobre os irmãos Tsarnaev, penso nos Irmãos Karamazov e no modo como a literatura e as bombas de Boston tem a ver com o pai. O pai Karamazov era um sujeito que só via a si mesmo, se valendo de sua autoridade, justificava todo tipo de perversão. Retratando uma Rússia decadente, sem princípios e direção, Dostoievski mostra que a decadência que se vive se instala primeiro dentro do sujeito, para depois se espalhar para o mundo que o rodeia.

O pai (e a mãe) dos Tsarnaev, disse que o FBI armou para seus filhos. Apesar de ambos estarem armados, trocarem tiros com a policia, matar um policial e roubar uma loja, a mãe diz:"isto é uma armação."

A Tchetchênia, de onde os irmãos saíram, é uma região que pertence a Federação Russa, mas que desejam se separar dela. Isto tem levado a ataques terroristas em várias partes do mundo. No ano de 2002, tchetchenos fizeram 50 pessoas reféns em um teatro de Moscou.

"Eles eram pessoas admiráveis", disse um dos entrevistados. Terroristas e assassinos, não tem cicatriz no rosto, barba por fazer nem cheiram mal. Esta imagem que pertence ao imaginário, se contrasta com a da realidade. Terroristas usam grifes, estudam, trabalham, tem amigos e matam pessoas. Tentar encontra-los em manuais de psiquiatria ou psicologia, é o mesmo que pensa-los fora do cotidiano em que vivem. Existem variações de graus quanto a explodir uma bomba e pintar uma pessoa de amarelo, colocando em seu pescoço uma placa onde se lê escrava, ou ainda, urinar dentro de uma piscina e mandar calouros entrar dentro dela, ou ainda, fazer um juramento negando-o. Mas, entre a bomba e a urina, encontraremos jovens que acreditam na morte e humilhação de pessoas. Isenta-los da responsabilidade pelo que fizeram é negar de que modo a decadência se instalou dentro de ambos. Submeter o outro diante de uma conquista, fazendo-a menor do que é, ou ainda, negando-a, é um ardil da inveja que serve para baixar o temor de se tornar ultrapassado. Isto não é novo, Fiódor Pavlovitch Karamázov, pai de Dmitri, Ivan, Alieksêi e do bastardo Pável, era um homem egoísta, sem princípios éticos e morais, contudo, detentor de recursos que o permitia exercer poder e acessibilidade.

Poder mantido pela inveja de constatar que existe um lugar melhor para se viver, do que aquele onde viviam os Tsarnaev. Um lugar perfeito? Não, longe disto, mas um lugar melhor. O pai karamazov se contrasta como os dos terroristas de Boston. Um exercia sua potência destruindo a vida dos filhos, o outro se fazia menor do que eles, conferindo-lhes atributos que eles não tem: "são inocentes".

Os alunos da PUC/ RJ quando debocham do juramento, bem como, os da UFRJ que mandam calouros entrar dentro de uma piscina de urina, mostram que tem um parentesco com seus primos de Boston. Todos eles descendem de uma linhagem de pais frágeis e que os fazem crer que são melhores do que são. Neste equívoco, nasce uma tragédia fundada no crime.

SN

sexta-feira, 19 de abril de 2013

GERAÇÃO TÔ NEM AÍ.



Veteranos usaram urina em trote de Medicina da UFRJ, dizem alunos. Os calouros carregaram placas com identificações como ‘viadinho tatuado’, ‘chifruda’ e ‘filha do demo’. No ano passado, um estudante virou uma lixeira na cabeça de outro.

Urina, peixes mortos, melância e terra. Essa é a mistura que veteranos de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro colocaram em uma piscina utilizada em um trote do curso ocorrido, há 15 dias, no campus da Ilha do Fundão. Os calouros foram obrigados a se banhar ali, como revelam as imagens publicadas pelo GLOBO nesta quinta-feira (18). As informações vieram de dois alunos que presenciaram o trote, mas não quiseram divulgar seus nomes por temerem reações do grupo de veteranos chamado “Esquadrão de bombas da UFRJ”.

Por outro lado, os alunos do curso de cinema da PUC/RJ que deveriam colar grau neste mês, ficaram sem o diploma por alterarem o texto do juramento. Depois de cada frase, a aluna que fazia o juramento acrescentava, por força de seu impulso criativo, as palavras OU NÃO. Logo, o juramento ficava assim: “prometo exercer minha profissão com espírito de quem se entrega a uma verdadeira missão de serviço, sempre tendo em vista o bem comum, OU NÃO, adicionava ela. Brincadeirinha, comentou um parente próximo.

O Diretor do Departamento de Comunicação Social entendeu que o juramento não havia sido feito. Sem isto, nenhum aluno ou aluna pode colar grau. A reitoria da universidade o apoiou.

Estes JOVENS criativos, liberais, engraçados e devotos de uma inteligência que os leva a passar no vestibular, mas os mantém ligados a um sadismo e dependentes de suas famílias.

Imagine estes pupilos do narcisismo caipira, na cena pública trabalhando.”Deputado, o senhor é' corrupto!”, ao que ele retruca: “ou não…”


quarta-feira, 10 de abril de 2013

O NYLON.



Certa vez, Genet comentou que a violência existe para por fim a brutalidade, que aterroriza e endurece o coração, deixando-o indiferente a qualquer coisa que esteja fora da fronteira da pele. Deste modo, o sujeito vive no mundo como se estivesse fora dele e, neste caso, faz o que deseja sem crítica, compromisso ou bom senso. Como ele poderia conduzir sua vida desta maneira, pois ele não conseguiria sustentá-la apenas com a loucura que o envolve? Para manter-se, precisaria de algo mais. A loucura é o artifício que esconde a crueldade que o constitui. O mesmo acontece com a violência em relação a brutalidade.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

FRAQUEZA



Rochefoucauld comentou que as pessoas fracas não podem ser sinceras, eu diria que principalmente em relação a elas mesmas. Hoje em dia, há possibilidade de dizer-se que se parecem com os delírios e alucinações com os quais me deparei quando conheci os internos dos hospitais psiquiátricos. Era impossível demovê-los do fato de alguns se dizerem Napoleão.

SEMELHANÇA ENTRE ORAN E O RIO DE JANEIRO.


"Oran, pelo contrário, é uma cidade aparentemente moderna. Não é necessário, portanto, definir a maneira como se ama entre nós. Os homens e as mulheres ou se devoram rapidamente, no que se convencionou chamar de ato de amor; ou se entregam a um longo (curto) hábito a dois. Também isso não é original. Em Oran, como no resto do mundo, por falta de tempo e reflexão, somos obrigados a amar sem saber."

A Peste: Camus, 1947

PATERNIDADE NO SÉCULO XXI



Papai sabe tudo (Father knows best) foi o nome do seriado que estreou na televisão em 1954, e que permaneceu no ar até 1960. Um pai querido, sua esposa e três filhos, dialogavam sobre temas cotidianos. Nesta mesma época, um outro seriado chamado Make room for daddy, se popularizou por usar como argumento um pai que tentava encontrar mais espaço no ambiente familiar. Ambas as séries, tratavam com humor temas pertinentes aos valores daquela época.

Trinta anos se passaram, e uma nova sitcom estreou na televisão. Em 1989, Os Simpsons compunham o retrato de uma família cujas agruras eram resolvidas preponderantemente, pela mãe. Dela também faziam parte, três filhos e um pai desacreditado, bonachão e equivocado.
Do Papai sabe tudo até Homer Simpson, a paternidade passou por mudanças significativas em sua concepção, consolidadas pelas inovações no campo da reprodução assistida e as reivindicações dos homens pela guarda dos filhos.
Ao longo dos anos, o pai deixa de ser o ator principal e é substituído pela mãe. Como poderíamos entender estas modificações e que impactos elas teriam sobre as novas gerações?
Muitos tem usado a denominação crise para falar destas alterações, eventualmente até de um colapso masculino. Depositar o conflito sobre os homens, é parte da estratégia de uma sociedade que precisa segregar para avançar.

Por conta disto, a paternidade ficou infantilizada, banalizada ou associada a maternidade. A palavra “pãe”, usada para se referir a homens que cuidam dos filhos, é exemplo disto. Em apenas trinta anos, a paternidade moveu-se de uma posição positiva para uma negativa. Foi criado um manual de boas maneiras para os homens, através do qual eles aprendem como devem se comportar diante dos filhos e da mulher.
Há quem pense que o movimento de mulheres tenha provocado este deslocamento. Todavia, a desvalorização da paternidade tem menos a ver com o movimento de mulheres, do que com as mudanças ocorridas nas bases da reprodução humana. Considerar os homens como inimigos, como dizia Simone de Beauvoir, certamente contribuiu para a desqualificação da paternidade e a invenção de Homer Simpson.
Fora destes seriados, temer o pai fazia parte do papel do filho. As mães inclusive, se valiam disto para que a criança fizesse o que elas queriam: “vou falar com seu pai.” Distante, o pai deveria ser exemplo de um adulto seguro e parcimoniosamente afetivo. Os homens acreditavam que deviam seguir este protocolo, tomando-o como verdade. Todavia, a paternidade transcende a dimensão individual pois situa cada indivíduo em um eixo geracional.
A partir dos anos 60, a imagem paterna começa a ser relativizada. De durões eles são transformados em bobões. A mudança pela qual passou a paternidade teve por base, inicialmente o afastamento do sexo da reprodução, e posteriormente a invenção da reprodução sem sexo. Nesta segunda, precisa-se apenas do sêmen e de um médico. O homem deixa de ser o pai. Nos Estados Unidos, uma mulher que resolve ter um filho, vai a um banco de sêmen e na certidão de nascimento da criança, onde deveria constar o nome do pai, lê-se: D.I. (donor insemination / inseminação artificial).
Liberar o sexo da reprodução, fez com que o prazer sexual surgisse como uma experiência libertária. Mas também foi uma etapa necessária para que a reprodução acontecesse fora do corpo, sem sexo, e com a eliminação da paternidade. Nesta perspectiva, teremos uma geração de crianças sem pai, e segundo o dito canadense: père manquant, fils manque, que quer dizer: quando o pai falta, o filho manca.

terça-feira, 2 de abril de 2013

OS ROCHA MIRANDA, A CHIFON E SUA LOJA NO LEBLON.



A criatura ficou no imaginário como um ser aterrorizante. O criador ficou isento disto. A beleza da criatura está no drama de sua vida, e a monstruosidade do criador, na vaidade daquele que busca méritos e não mede esforços para isto.

Ontem, quando chegamos a delegacia, para prestar um outro depoimento, o inspetor nos falou que o processo que havíamos iniciado, tinha sido arquivado. Nos disse que a delegada não estava. Nosso advogado pediu uma cópia do parecer de arquivamento, para dar entrada em um outro processo junto a Corregedoria, contra a delegada. O inspetor retornou a sala da delegada, que não só apareceu, como disse que o processo não havia sido arquivado. ” Isto foi um mal entendido”, disse ela.

Contratamos um perito civil para inspecionar o local onde a obra está sendo feita. Este perito, bem como, o corpo de bombeiro e a defesa civil, concordam que o corte da laje não poderia ser feito do modo como fizeram os operários da obra. Contudo, a obra continua. Percebi pelo modo como tudo se fazia, e desfazia, que havia algum tipo de interferência, não visível a meus olhos, que dia-a-dia, ia desarticulando nosso trabalho junto as instancias pelas quais transitávamos. A policia, o corpo de bombeiro e a defesa civil, estão mais próximas dos cidadãos, do que a prefeitura. Esta ultima não fiscaliza, e seus prazos para tal, só dão margens para ardis e malandragem.

Diante deste cenário, partimos para o judiciário com uma nova tentativa. Hoje, uma juíza deliberou nova pericia, que nos custou R$ 5 000, 00 , enquanto que, a da policia custou R$ 450,00. Pagamos por ambas. A diferença é que os níveis de influência se reduzem no judiciário.

Já se passaram 5 dias desde que, nós residentes no prédio, onde a obra acontece, nos revezamos para receber policiais, peritos, ir a delegacia prestar depoimentos, ao fórum para despachar com juiz. Na rua um dos lojistas comentou: “vocês não vão conseguir nada. Os donos desta loja são os ROCHA MIRANDA, eles são tão ricos quanto Eike. E os donos da CHIFON, são ricos também.” Isto justificaria a impotência e preguiça para fazer valer seus direitos. Este conformismo chapa branca, atravessa esta cidade de norte a sul, leste a oeste, mantendo tudo como está. Todo mundo reclama, mas não quer resolver seus próprios problemas.

Foi necessário irmos até o judiciário para tratar de uma obra que não foi aprovada em Assembléia do Condomínio, não tem licença nem alvará, não tem projeto de cálculo nem responsável no local, funciona com operários sem carteira de trabalho e equipamentos de proteção. Todos os representantes do estado viram isto, e ninguém embargou a obra. Se existem chances para um cidadão desta cidade, ela está no judiciário, pois os demais seguimentos que atendem a população, estão comprometidos com um outro tipo de trabalho, segundo o qual, só os ricos, influentes e com poder, manipulam como querem.

Quando você abrir uma revista onde vê ricos, influentes e poderosos, pense na relação que cada um deles tem como os problemas que você vive no seu cotidiano. A impotência está associada a admiração que cada um nutre por seu algoz, tomando-o com modelo a ser seguido.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

NOTICIAS DE GOTHAN

No centro, um incêndio de origem suspeita, acabou com uma parte do comércio da cidade. Outro dia, um motorista passou por um ciclista arrancando seu braço. Sem prestar socorro, o motorista arremessou o braço para longe, afim de não ser incriminado. No Leblon, três mulheres armadas assaltaram duas bancas de jornal. Uma turista norte-americana foi estuprada por 3 homens dentro de uma van, em Copacabana, enquanto seu namorado assistia e era assaltado. No interior de Gothan, uma manicure, pare se vingar, assassinou o filho do amante. A cada minuto, todo morador da cidade vive uma situação de desrespeito e abuso. Em Gothan, não há lei, apesar de existir um discurso sobre a lei, feito por aqueles que foram eleitos pela manicure, pelos estupradores, as assaltantes e o motorista assassino. Na cidade cada um acha que ter liberdade é fazer o que quer, quando quer. O que se vê nas ruas e calçadas de Gothan, é um retrato da cidade: bicicletas e carros sobre a calçada, lixo e sujeira de todo tipo. Os quadrinhos tiveram mais sorte, neles, há quem possa salvar Gothan de si mesma.