sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

PAÍS 2013




Naquele país, os muros foram substituídos por arbustos. Cada um de seus habitantes não projetava sobre o outro o que lhe pertencia. Por esta razão, as conversas fluíam sem ataques ou dissimulações. Quanto mais firmes se tornavam os vínculos, mais floriam os jardins. Por alguma razão a natureza se sentia incluída neste tipo de cultura, e respondia a ela com florações. Não havia mágoas ou ressentimentos, porque eles sabiam que ninguém poderia salvar alguém de si mesmo. Entre eles, não haviam vítimas, pois todos assumiam suas vidas nas próprias mãos. O mesquinho não os suportava porque dependia da usura para se vincular, e lá , o afeto era farto. De algum modo, aquelas pessoas haviam conseguido viver dentro delas mesmas, sem transbordar  sobre os outros, interpretando-os ou julgando-os a favor de seus próprios pontos de vista.  Vida boa era aquela que passava sem medo, preconceitos e privilégios.

SN

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

TUA SINA



Por quereres ser mais do que és, lhe darei uma consciência estreita, uma moral densa e um narcisismo pesado. Feito isto, viverás confinado em um mundo miserável e pequeno, sem que jamais possas sair do que pensas que és. Do pó ao pó. De nada lhe adiantará inventar mundos para escapar de tua mortalidade, finitude e mesquinharia. Pois quem guiará teus passos será a indiferença, o sarcasmo e a ironia. Eles te acompanharão os dias e te farão esquecer quem és. Tudo que tocares, em matéria ser transformará.

SN

domingo, 16 de dezembro de 2012

O TEMPO QUE SE GASTA


Se o tempo que uma pessoa usa olhando para a vida e a pessoa do outro, fosse usado para pensar porque razão não consegue olhar para si mesmo, ela poderia rir sem ansiedade, viver sem se mostrar, estar sem se sentir só, descansar das palavras e se preencher de uma quietude singular.

HIPOCRISIA

Por alguma razão que a razão negligencia, a hipocrisia alheia é denunciada com vigor por aquele que precisa disto para proteger-se de seu próprio olhar.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

BEIRUTE




Em Beirute, houve um tempo no qual a imaginação colocada a serviço da poesia, vestia tanto casas quanto seus habitantes. Deste modo, a cidade mergulhava em uma atmosfera mágica, chegando até as casas através da luz que atravessava as cortinas, deixando-as propícias para o recolhimento e o amor daqueles que viviam nelas. O cravo e a canela, temperavam o ambiente com tons de laranja, amarelo e vermelho.

SN

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

CADA UM




Por esperar que sejamos de ferro, e não de carne, é o que faz prosperar em nós a desilusão, o desencanto e os equívocos de tentar ser quem não somos e nos sentirmos menos amados por isto. Cada um só pode ser feito de si mesmo.

SN