sexta-feira, 17 de agosto de 2012

50 ANOS

" Eu gostaria de acreditar que o que está diante de mim, corresponde ao que busca meu desejo. Deste modo, durante anos, eu passei uma rasteira em mim mesmo. 

Hoje, quando algo me interessa, penso que posso estar blefando se me faço acredit
ar que algo novo esta por vir.
O novo é o que mudava em mim, todos os dias, mas eu não percebia.

O idealizado se foi, deixando espaço para se estabelecer vínculos, cuja intimidade fluía sem medo ou pudor.

Neste dia eu completava 50 anos. Possivelmente, antes disto, algo desta ordem não poderia ter acontecido."

A VILA

" Certamente ele não sabia nada sobre isto. Por esta razão, se convenceu de que era tudo aquilo que negava em si mesmo. Você me pergunta se isto é possível?

É possível! Existem muitos como ele. Tantos, que eles até se esqueceram de que pas
saram a acreditar na mentira que contaram sobre eles mesmo. O interessante é que eles assumiram a mentira como verdade, e já não sabem mais o que é uma e outra.

A rua onde moram não poderia ser diferente, nem seus amigos. Nela havia um ar poluído, apesar de ser uma vila. Não sei se poderíamos dizer que era soturno, mas uma atmosfera híbrida e dissimulada circulava por ali.

Sim, eles eram os donos do lugar. Mas eu não saberia lhe dizer se isto é uma mentira ou verdade. Eles acreditavam que eram. Suas esposas caminhavam com um ar sóbrio, para impressionar apenas, pois havia um exagero naquele passo.

Eu penso que a petulância, e o senso de superioridade, vinham do desatino contido de não saberem quem são, ou melhor, de não arriscarem a ser nada, para que mantenham o silêncio sobre eles mesmos."