Enquanto se mantiver a crença de que a saúde mental depende exclusivamente do sujeito, sem relaciona-la ao tipo de sociedade na qual ele vive, todo sentimento ou comportamento será classificado como doente. Já se foi o tempo em que se acreditou que apenas o prazer nos livraria da loucura, pois nunca existiu uma sociedade tão permissiva quanto a de hoje, na qual prazer e felicidade são sinônimos, mas que mantém ao lado disto, altos graus de indiferença social. Existe patologia maior do que esta?
SN
quarta-feira, 15 de maio de 2013
SHAVUOT - MIDRASH 5774
NÃO ROUBARÁS.

A palavra Shavuot significa "semanas": assinala sete semanas
entre Pêssach e Shavuot (o período do ômer), durante o qual o povo preparou-se
para a receber a Torá. Durante este tempo, elaborou o significado das
cicatrizes deixadas pela escravidão, usando-as como elementos em torno dos
quais uma aliança se fez.
Shavuot também significa "juramentos". Com o recebimento da
Torá, o povo e D'us trocaram juramentos, formando um pacto duradouro de não
abandonar um ao outro.

A aliança ou pacto simboliza
acordo, tratado, contrato, união entre duas partes. Ela é uma exteriorização de
algo que se tem no coração, ou seja, é a maneira de materializarmos sentimentos,
convicções, responsabilidades e compromissos.
Para compreendermos o que
significa um pacto ou uma aliança com D-us, devemos lembrar que o elemento
comum entre os patriarcas foi o pacto com Deus, no qual se estabelece o
compromisso mútuo, que se ratifica a cada geração, na transmissão de valores
existenciais.
A aliança é muito mais do que um
contrato ou acordo. Contratos têm períodos de vigência, enquanto o pacto ou
aliança é um acordo permanente.
Um provérbio que aparece em
Ezequiel e Jeremias, diz que “Os pais comeram uva verde e os dentes dos filhos
é que ficaram embotados.” Em diferentes passagens da Torá, encontramos
mencionadas as consequências que se seguem quando se dá a quebra da Aliança.
O castigo pode ser entendido como
tentativa através da qual a quebra poderá ser inibida. Como se existisse uma
tensão, a priori, que pudesse fazer rompe-la. O que brota de dentro de nós e não
tem nome, encontra na palavra um representante que atenua a inquietação que
isto gera. A excitação sem nome, faz uma aliança com a palavra e nela funda uma
outra ordem. Quando isto acontece,
falamos e desta aliança, criamos mundos.
O sagrado se faz representar como
aquele que promove a aliança entre excitação e palavra, da qual nasce um
sujeito no mundo e é parte deste mundo. Um sujeito que ganhará um nome e com
ele, fará parte da comunidade que nasce para receber e celebrar esta aliança.
Só existe BERITH na presença de
MILÁ, pois ela reprenta a marca, aceitação e gratidão por esta aliança. De Noé
a Abraão, o NÃO é expressão de MILÁ. Quando ela se faz, é possível ver nascer
um sujeito que se liga as palavras e sai da condição do que em si não tem nome.
No latin, BURGATOR quer dizer
ladrão e BURGARE, significa quebrar, irromper, roubar. O ladrão é aquele que
por meio do ato quebra a aliança entre a palavra que o diz e o que que ele não
soube nomear em si mesmo.

No hebraico encontramos a palavra
GUENIF/ GUANAF, usada para se referir a roubar, furtar e GUENAI para se referir
a vergonha, desgraça. A letras GUIMEL que é usada para compor esta palavra,
traz como um de seus significados, a busca de recompensa e punição no mundo
físico, que nos leva a pensar em Adão e Eva. E a letra NUM, que pode ser
compreendida como sendo a que representa a queda do altruísmo até a
auto-concientização.
A letra BEIT, que aparece no
final da palavra representa uma morada para D-us no mundo interior.
Para sermos um, dependemos de
alguém que tenha cuidado de nós, alguém que celébre conosco nosso nascimento,
inserindo-nos no mundo das
palavras. E D-us disse: “Seja a luz!” E foi luz. A palavra possibilidade, de
fazer vingar o que pode fracassar em nós. Ela que se apresenta antes mesmo de
termos nascido, nos antecede, guiando-nos onde não sabemos de nós. Sabe bem de
si quem se soube pelo amor de quem o acompanhou deste os primeiros dias.
Portanto, NÃO ROUBARÁS de ti a
aliança que o constitui, pois se assim fizer, se perderás dentro de si mesmo.
Este mandamento tem a função de conter o que existe no sujeito o que pode
coloca-lo a mêrce do que ele não sabe existir nele mesmo. É possível cumprir e
descumprir um madamento, mas o que deve ser evitado é a quebra da ALIANÇA, do
compromisso em nos tornarmos pessoas melhores. Isto só é possível na relação
com mundo, nunca fora dele.
O rabino Izchak Zilberstein, da
Bnei Brak/ Israel, em um de seus seminários, cita o seguinte exemplo: o que
você faria caso descobrisse que seu funcionário mais qualificado está roubando
dinheiro ou mercadoria da empresa? E se o valor roubado fosse insignificante
frente ao benefícios que este funcionário traz a empresa?
No ano de 2010, a questão 47 do
ENEN tratava da seguinte questão: Na nossa sociedade, roubar e mentir na
ausência de razões ou motivos suficientemente fortes são consideradas imorais.
Suponha, no entanto, que a maioria das pessoas começasse a roubar e mentir sem
que houvesse para isto boas razões
e motivos. Neste caso, é possivel dizer que roubar e mentir deixariam de ser
imorais?
De Noé aos dias de hoje,
assistimos uma diluição desta ALIANÇA que passou a favorecer mais ao indivíduo do
que ao coletivo do qual ele faz parte. BERITH sem MILA é aquela que o sujeito
forma consigo mesmo, para além do nome que o integra a um mundo que o antecede,
rico em tradições.
Rouba-se a paz do mundo quando
dele se tira o sentido e o significado que tem as ALIANÇAS. Sem elas, a
possibilidade de cada um ser dito de muitas maneiras se vai. Pode-se roubar um
objeto, mas quando dele se elimina o siginificado, o sujeito e o objeto se tornam
um só. Todavia, quando o significado é eliminado desaparece a ALIANÇA que
alimenta nossa crença de que podemos ser mais do que objetos. Isto seria o
mesmo que transformar o dinheiro em Efker, ou seja, se ele for de todos o roubo
deixaria de existir.
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