quarta-feira, 15 de maio de 2013

SHAVUOT - MIDRASH 5774


NÃO ROUBARÁS. 

Shavuot é o segundo dos três maiores Dias Festivos , e acontece  cinqüenta dias após Pêssach. A Torá foi entregue por D'us ao povo judeu há mais de três mil e trezentos anos. Todos os anos, neste dia, renovamos a aliança feita com Ele.
A palavra Shavuot significa "semanas": assinala sete semanas entre Pêssach e Shavuot (o período do ômer), durante o qual o povo preparou-se para a receber a Torá. Durante este tempo, elaborou o significado das cicatrizes deixadas pela escravidão, usando-as como elementos em torno dos quais uma aliança se fez. 
Shavuot também significa "juramentos". Com o recebimento da Torá, o povo e D'us trocaram juramentos, formando um pacto duradouro de não abandonar um ao outro.
O PACTO tem o mesmo significado que ALIANÇA, no sentido de acordo entre duas ou mais partes, cujo objetivo é o bem comum. Os estudos sobre o PACTO são antigos.

A aliança ou pacto simboliza acordo, tratado, contrato, união entre duas partes. Ela é uma exteriorização de algo que se tem no coração, ou seja, é a maneira de materializarmos sentimentos, convicções, responsabilidades e compromissos.

Para compreendermos o que significa um pacto ou uma aliança com D-us, devemos lembrar que o elemento comum entre os patriarcas foi o pacto com Deus, no qual se estabelece o compromisso mútuo, que se ratifica a cada geração, na transmissão de valores existenciais.

A aliança é muito mais do que um contrato ou acordo. Contratos têm períodos de vigência, enquanto o pacto ou aliança é um acordo permanente.

Um provérbio que aparece em Ezequiel e Jeremias, diz que “Os pais comeram uva verde e os dentes dos filhos é que ficaram embotados.” Em diferentes passagens da Torá, encontramos mencionadas as consequências que se seguem quando se dá a quebra da Aliança. 

O castigo pode ser entendido como tentativa através da qual a quebra poderá ser inibida. Como se existisse uma tensão, a priori, que pudesse fazer rompe-la. O que brota de dentro de nós e não tem nome, encontra na palavra um representante que atenua a inquietação que isto gera. A excitação sem nome, faz uma aliança com a palavra e nela funda uma outra ordem.  Quando isto acontece, falamos e desta aliança, criamos mundos.

O sagrado se faz representar como aquele que promove a aliança entre excitação e palavra, da qual nasce um sujeito no mundo e é parte deste mundo. Um sujeito que ganhará um nome e com ele, fará parte da comunidade que nasce para receber e celebrar esta aliança.
Só existe BERITH na presença de MILÁ, pois ela reprenta a marca, aceitação e gratidão por esta aliança. De Noé a Abraão, o NÃO é expressão de MILÁ. Quando ela se faz, é possível ver nascer um sujeito que se liga as palavras e sai da condição do que em si não tem nome.

No latin, BURGATOR quer dizer ladrão e BURGARE, significa quebrar, irromper, roubar. O ladrão é aquele que por meio do ato quebra a aliança entre a palavra que o diz e o que que ele não soube nomear em si mesmo.

O Alcorão prescreve um castigo para quem rouba que corresponde a decepar a mão do ladrão ou ladra. Contudo, menciona também que o culpado pode ser absolvido por D-us. A etiologia aponta como um significado possível para a raiz da palavra arabe que designa castigo, como sendo também quebrar, triturar . Existe algo mais grave do que praticar o roubo: ir contra a Aliança com D-us que cada mandamento estabelece. Novamente a aliança é colocada em questão e para tanto, se fala do ladrão e de seu castigo.

No hebraico encontramos a palavra GUENIF/ GUANAF, usada para se referir a roubar, furtar e GUENAI para se referir a vergonha, desgraça. A letras GUIMEL que é usada para compor esta palavra, traz como um de seus significados, a busca de recompensa e punição no mundo físico, que nos leva a pensar em Adão e Eva. E a letra NUM, que pode ser compreendida como sendo a que representa a queda do altruísmo até a auto-concientização.

A letra BEIT, que aparece no final da palavra representa uma morada para D-us no mundo interior.

Para sermos um, dependemos de alguém que tenha cuidado de nós, alguém que celébre conosco nosso nascimento, inserindo-nos  no mundo das palavras. E D-us disse: “Seja a luz!” E foi luz. A palavra possibilidade, de fazer vingar o que pode fracassar em nós. Ela que se apresenta antes mesmo de termos nascido, nos antecede, guiando-nos onde não sabemos de nós. Sabe bem de si quem se soube pelo amor de quem o acompanhou deste os primeiros dias.

Portanto, NÃO ROUBARÁS de ti a aliança que o constitui, pois se assim fizer, se perderás dentro de si mesmo. Este mandamento tem a função de conter o que existe no sujeito o que pode coloca-lo a mêrce do que ele não sabe existir nele mesmo. É possível cumprir e descumprir um madamento, mas o que deve ser evitado é a quebra da ALIANÇA, do compromisso em nos tornarmos pessoas melhores. Isto só é possível na relação com mundo, nunca fora dele.

O rabino Izchak Zilberstein, da Bnei Brak/ Israel, em um de seus seminários, cita o seguinte exemplo: o que você faria caso descobrisse que seu funcionário mais qualificado está roubando dinheiro ou mercadoria da empresa? E se o valor roubado fosse insignificante frente ao benefícios que este funcionário traz a empresa?

No ano de 2010, a questão 47 do ENEN tratava da seguinte questão: Na nossa sociedade, roubar e mentir na ausência de razões ou motivos suficientemente fortes são consideradas imorais. Suponha, no entanto, que a maioria das pessoas começasse a roubar e mentir sem que houvesse  para isto boas razões e motivos. Neste caso, é possivel dizer que roubar e mentir deixariam de ser imorais?
 
De Noé aos dias de hoje, assistimos uma diluição desta ALIANÇA que passou a favorecer mais ao indivíduo do que ao coletivo do qual ele faz parte. BERITH sem MILA é aquela que o sujeito forma consigo mesmo, para além do nome que o integra a um mundo que o antecede, rico em tradições.

Rouba-se a paz do mundo quando dele se tira o sentido e o significado que tem as ALIANÇAS. Sem elas, a possibilidade de cada um ser dito de muitas maneiras se vai. Pode-se roubar um objeto, mas quando dele se elimina o siginificado, o sujeito e o objeto se tornam um só. Todavia, quando o significado é eliminado desaparece a ALIANÇA que alimenta nossa crença de que podemos ser mais do que objetos. Isto seria o mesmo que transformar o dinheiro em Efker, ou seja, se ele for de todos o roubo deixaria de existir. 

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