sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

PAÍS 2013




Naquele país, os muros foram substituídos por arbustos. Cada um de seus habitantes não projetava sobre o outro o que lhe pertencia. Por esta razão, as conversas fluíam sem ataques ou dissimulações. Quanto mais firmes se tornavam os vínculos, mais floriam os jardins. Por alguma razão a natureza se sentia incluída neste tipo de cultura, e respondia a ela com florações. Não havia mágoas ou ressentimentos, porque eles sabiam que ninguém poderia salvar alguém de si mesmo. Entre eles, não haviam vítimas, pois todos assumiam suas vidas nas próprias mãos. O mesquinho não os suportava porque dependia da usura para se vincular, e lá , o afeto era farto. De algum modo, aquelas pessoas haviam conseguido viver dentro delas mesmas, sem transbordar  sobre os outros, interpretando-os ou julgando-os a favor de seus próprios pontos de vista.  Vida boa era aquela que passava sem medo, preconceitos e privilégios.

SN

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

TUA SINA



Por quereres ser mais do que és, lhe darei uma consciência estreita, uma moral densa e um narcisismo pesado. Feito isto, viverás confinado em um mundo miserável e pequeno, sem que jamais possas sair do que pensas que és. Do pó ao pó. De nada lhe adiantará inventar mundos para escapar de tua mortalidade, finitude e mesquinharia. Pois quem guiará teus passos será a indiferença, o sarcasmo e a ironia. Eles te acompanharão os dias e te farão esquecer quem és. Tudo que tocares, em matéria ser transformará.

SN

domingo, 16 de dezembro de 2012

O TEMPO QUE SE GASTA


Se o tempo que uma pessoa usa olhando para a vida e a pessoa do outro, fosse usado para pensar porque razão não consegue olhar para si mesmo, ela poderia rir sem ansiedade, viver sem se mostrar, estar sem se sentir só, descansar das palavras e se preencher de uma quietude singular.

HIPOCRISIA

Por alguma razão que a razão negligencia, a hipocrisia alheia é denunciada com vigor por aquele que precisa disto para proteger-se de seu próprio olhar.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

BEIRUTE




Em Beirute, houve um tempo no qual a imaginação colocada a serviço da poesia, vestia tanto casas quanto seus habitantes. Deste modo, a cidade mergulhava em uma atmosfera mágica, chegando até as casas através da luz que atravessava as cortinas, deixando-as propícias para o recolhimento e o amor daqueles que viviam nelas. O cravo e a canela, temperavam o ambiente com tons de laranja, amarelo e vermelho.

SN

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

CADA UM




Por esperar que sejamos de ferro, e não de carne, é o que faz prosperar em nós a desilusão, o desencanto e os equívocos de tentar ser quem não somos e nos sentirmos menos amados por isto. Cada um só pode ser feito de si mesmo.

SN

domingo, 11 de novembro de 2012

ARROGÂNCIA


Se descascar a arrogância, encontrará sob o verniz que a reveste, uma burrice crédula, mantida pela mais pura miséria de alguém que não tem a menor idéia acerca de si mesmo.


SN

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

COMEÇO

A esperança brota no começo, talvez porque ela dependa da ilusão que se perde ao longo do caminho. Certos lugares são plenos de começo.

SN

domingo, 28 de outubro de 2012

DE QUEM SE FALA?




Melhor escutar a si com imparcialidade, do que acatar a parcialidade de quem fala de si mesmo como se do outro falasse.

SN

O VERÃO NO RIO E EM ARGEL.



Camus dizia que era preciso morar muito tempo em Argel para compreender até que ponto o excesso de bens materiais pode prejudicar a sensibilidade. Esta cidade, dizia ele, não oferece lições. "Aqui não existe nada para aquele que deseja aprender, educar-se ou torna-se melhor." Estas duas cidades nada prometem nem deixam entrever. Estranha estas cidades, "que dão ao homem que alimenta seu esplendor e sua miséria a um só tempo".
Nelas, a luz, o mar e o azul ficaram limitados a verdade atribuida a sensualidade. "Os homens encontram aqui, durante toda juventude, uma vida à medida da beleza deles. Depois é decadência e olvido. Jogaram tudo que tinham na sensualidade, com a certeza, porem, de que deveriam perder. Em Argel, para quem é jovem e cheio de vida, tudo é refúgio pretexto para triunfos: a baia, o sol, o jogo vermelho, as flores e os estádios, as moças de pernas vigorosas. Entretanto, para quem já perdeu a juventude não existe nada a que aferrar-se e não há lugar onde a melancolia se possa salvar a si própria. Aqui tudo exige solidão mesmo que docemente."

foto: Carlos Vieira.

VIVER



VIVER NÃO É RESIGNAR-SE.

A. Camus

sábado, 27 de outubro de 2012

O AMOR

                                                                                                                                                           





Podemos amar, mas não podemos salvar ninguém de si mesmo através deste amor.

SN

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

JORNALISMO ACUSATIVO

QUANDO UM TEXTO EXALTADO CRITICA A EXALTAÇÃO ALHEIA, É PORQUE O QUE MOTIVOU TAL ESCRITA NÃO SE PODE REVELAR.

NASSIF, escreveu hoje em seu blog:

" INEGAVELMENTE, Joaquim Barbosa NÃO ESTÁ APTO a assumir a presidência do STF. DE FORMA ALGUMA. É 
uma pessoa EMOCIONALMENTE DESEQUILIBRADA, INCAPAZ DE ENTENDER regras mínimas de convivência com seus pares. Sua truculência É TAMANHA que, nas sessões do Supremo, um presidente VACILANTE, como Ayres Brito, mal consegue contê-la. Foi necessário que Marco Aurélio de Mello se manifestasse duramente para Joaquim Barbosa sair do SURTO que o acometeu.
Como presidente, o que ocorreria? Uma desmoralização completa da CORTE."

Quando aquele que escreve não tem argumentos para desenvolver uma idéia, se vale de julgamentos cuja função é desqualificar aquele que ameaça seus interesses. Por este motivo, palavras do tipo: INEGAVELMENTE, NÃO ESTÁ APTO, DE FORMA ALGUMA, EMOCIONALMENTE DESEQUILIBRADA, INCAPAZ, VACILANTE E SURTO são usadas com intuito de convencer o leitor de que o que está escrito é a verdade.

Quem assim escreve, se coloca na posição do JUIZ ou do PSICÓLOGO/PSIQUIATRA que foram treinados para diagnosticar. Todavia, quando alguém com uma formação em jornalismo se acha com o poder de dizer o que não foi treinado para tal, é porque alguma outra razão haveria para este intentona.

No dia 23 de julho, o PSDB entrou com uma representação na Procuradoria-Geral Eleitoral (PGE) para pedir uma investigação sobre o financiamento dos sites Conversa Afiada e Dinheiro Vivo dos jornalistas PAULO HENRIQUE AMORIM E LUIZ NASSIF, informou a Conjur.

A este respeito, o deputado federal RODRIGO DE CASTRO, secretário-geral do PSDB, ressaltou que a representação não é uma tentativa de coibir a liberdade de expressão. “Cada um é livre para fazer um blog e expressar suas opiniões. O que não é aceitável é a criação de SITES FINANCIADOS COM DINHEIRO PUBLICO e direcionados para falar bem ou mal de determinadas pessoas. Não concordamos com verba pública sendo destinada a abastecer instrumentos de política partidária”, explicou.

domingo, 23 de setembro de 2012

BABÁ, A BANDEIRA E O PROFETA.





Por quê queimar uma bandeira não acende, no ofendido, um furor assassino, semelhante ao despertado pelo filme ou charge, de um profeta? Que tipo de relação o sujeito estabelece com  a representação do Estado e com a da Religião? O que, de seu psiquismo, o liga ao Estado e o que o liga a Religião? 

A idéia de estado se distingue da de monarquia,  porque o Estado representa muitos, mas o monarca, si a mesmo. Pode-se ter duvidas acerca do quanto um estado está sendo bem representado, mas o monarca é o que é.

Porque uma representação nunca é o objeto que ela representa, pode-se ter dúvida se ela o representa bem. Um estado sem dúvida é totalitário, e se alimenta da sombra do monarca. O dúvida impulsiona o pensamento, tirando-o da certeza que a religião determina. Dentro de uma república existem ateus, que devem ser respeitados como os crentes. Porém,  na religião-estado, isto não é possível. Veja o que acontece no Paquistão.

Se o Estado é Religião, haverá pena de morte para quem se diz ateu. “Cortem as cabeças”, disse a rainha de copas, de Carol. Se você não pensa como eu, deve morrer. Um estado, pelo contrario, deve evitar isto ocorra, garantindo que todos possam ser representados.

Para representar, o sujeito precisa manter uma distancia em relação a seus afetos. Não há pensamento sem representação, por este motivo, é possível que uma bandeira seja queimada, e a ofensa que isto cause, não ameace o sujeito, a ponto dele achar que seu mundo irá ruir.

Com a religião é diferente. Nela, a representação é absoluta, não existe outro mundo alem daquele apresentado pela religião. Este mundo para continuar existindo, depende mais do respeito do outro do que da própria fé que o crente mantém por ele. O ocidente sem a dúvida, retorna a uma monarquia que só faz sentido para o imperador, e para aqueles que acreditam nele. Sem a dúvida o absoluto não se relativiza, como acontece na onipotência de pensamento, que para se manter, deve eliminar todo aquele que ameace este engano.


sábado, 22 de setembro de 2012

VIVER E MORRER

Ninguém pode nascer ou morrer por nós. Mas quando inventamos o amor, para nos fazer esquecer disto, a solidão passou a se mal vista. 
SN

NOVA FAMILIA BRASILEIRA?


1- Como conceituar família em nossos dias, principalmente depois dos dados apresentados no último Censo?


O perfil das famílias brasileiras mudou em relação aos dados do ultimo senso. A chamada familia tradicional, modelo composto por pai, mãe e filhos, agora convive com familias cujo núcleo familiar é formado por crianças de uniões anteriores, de pessoas sozinhas, casais sem filhos e uniões constituidas por pessoas do mesmo sexo. O casamento tanto na igreja, quanto no civil, se reduziu diante das uniões consensuais, que aumentaram consideravelmente.

A redução da taxa de natalidade, mulheres tendo filhos mais tarde e o aumento da estimativa de vida, são fatores que corroboraram para este cenário de mudança.

O censo de 2010, enumerou dezenove laços de parentesco, para que fosse possível cobrir todas estas mundanças. Já o censo de 2000, listou apenas onze. Os novos lares somam 28,647 milhões, 28.737 a mais que a formação clássica.

O que podemos pensar a respeito destes dados? Há uma crescende individualização da familia, agenciada pela busca de prazer imediato e aquisição de bens. O invidualismo como crença, perpassa cada vez  mais o cotidiano das pessoas, que usam suas teses para decidir o que fazer de suas vidas. Esta nova família que se “descoletiviza”, não assume todos os credos individalistas, principalmente aqueles que se referem ao respeito as individualidades. O imaginário que povoa os lares brasileiros é tradicional, estimulam o enriquecimento, o consumo e a fama, como parâmetros de sucesso, mais do que educação, trabalho e compromisso e respeito com o publico.





2- Que valores sociais e culturais refletem a nova família brasileira retratada nos dados do último Censo?


No Brasil, se pensarmos que saimos de uma sociedade tradicional, para uma que se consolida como indivualista, deveríamos nos ater a ideia de acesso, ou seja, a democratização do consumo e dos serviços que usufruem as classes abastadas.

Se olharmos sem pensar, poderíamos acreditar que esta família multipla e mais reduzida, é nova. Porém, nela encontramos valores tradicionais que a vincula as formas de poder vigente, a hierarquia social pautada no enriquecimento, valorização pela aquisição de bens.

As inciativas culturais, apesar de terem aumentado, ainda são timidas se considerarmos o potencial de contribuição que elas tem para promover mundanças de mentalidade. No Brasil, assistimos a formação de grupos familiares distintos, porém, isto não quer dizer que dentro de cada um deles, valores tradicionais não continuem imperando. Estas novas familias, tem crescido em torno delas mesmas, e dialogam muito pouco com aquelas que tem um formato diferente do seu.

As “novas” familias, estão cada vez menos preparadas para inventar formas de coletivização, e vinculação com outras famílias, cujo modelo seja distinto do seu. As novas familias brasileiras, compraram o preceito individualista, mantendo o ranço de valores tradicionais no que tange a falta de respeito ao outro, e uma pretenção de superioridade herdada das classes altas.


3- O que podemos entender por maternidade e paternidade no século XXI?


Nos dias de hoje, a paternidade deixou de ser uma questão de fé, como se dizia nos anos 70, passando a ser valorizada e estimulada. Por sua vez, a maternidade que, anteriormente, era um exercicio que se fazia dentro do doméstico, e associado ao cuidado dos filhos, recebeu uma outra configuração, por conta da mulher ter ampliado suas demandas na vida.

Pai e mãe se encontram cada vez mais na cena publica, do trabalho, do que na domestica. Estas funções no Brasil, estão cada vez mais terceirizadas. Babas, créches, transporte escolar, ou ainda, filhos cada vez mais cedo sendo autorizados a cuidarem de si mesmo, nos mostram o quanto que há uma delegação de tarefas por parte dos pais.

Maternidade e paternidade se diluem, diante das demandas de trabalho e produção de dinheiro, ambos passaram a ter funções secundárias diante de uma “nova” familia, na qual os filhos são independentizados cada vez mais cedo, passando de modo precoce, a ter a mesma estatura dos seus pais.

A gravidez na adolescencia, o indicadores de mortes de homens jovens por causas externas, descrevem um cenário de solidão, no qual estes filhos ficam sem ter a quem recorrer, já que em suas casas, o que se manteve presente foram os eletrodomésticos.

Antes de existir um pai ou uma mãe, deve haver dois sujeitos com disponibilidade para cuidar de um outro. Sem isto, não surgirá nem pai, nem mãe, mas maquinas de reprodução em vitro, de fecundidade sem sexo, de cuidado sem vinculo, de conforto sem afeto.


4- O que os homens têm feito, diante das mudanças atuais da família,para tentar encontrar mais espaço no ambiente familiar?

No Brasil, apesar da mulher ter saido do espaço domestico, tradicionalmente ele tem sido considerado sua area de competencia e poder. Permance o tradicional, lá onde deveria existir a premissa de que o individuo é o valor, e portanto: homem e mulher deveriam ter os mesmos direitos. Nas varas de familia, as mulheres continuam sendo favorecidas em relação aos homens, caso se separem. Muitas familias acreditam que a mãe tem mais importancia que o pai, mesmo quando a criança já tenha deixado o peito.

Para que um homem não se intimide com este panorama, ele deve ter clareza de que a paternidade é uma ampliação de sua possibilidade de ser homem no mundo. Uma criança precisa de um cuidador, seja ele pai ou mãe. No Brasil, os homens não tem demonstrado interesse por uma reflexão mais séria e profunda no que tange a paternidade, bem como, nas maneiras que ela transforma a vida de cada um deles. 

Os homens brasileiros, tem uma resistencia para sair desta area de conforto em que tradicionalmente se colocaram. Segundo esta perspectiva, a mãe é aquela que sabe como cuidar, porque foi ela quem gerou o bebe. As sociedades tradicionais concedem a mulher o direito de usar a intuição, aplicando-a no cuidado dos filhos. No consultório, percebo que são muitas as razões que levam uma mulher desejar a ter filho, ser mãe nem sempre é o principal motivo.

No Brasil, os grupos de homens que tem procurado discutir a paternidade, tem usado o ponto de vista das mulheres sobre o assunto, mais do que os homens tem a dizer a respeito. Segundo estes grupos, a divisao das tarefas domesticas e a prevenção da violência contra a mulher, são temas recorrentes.


5- Em que medida o seriado Os Simpsons reflete a realidade familiar brasileira atual?

Nos dias de hoje, a midia quando se refere a mulher, o faz através da palavra: PODEROSA.  A mulher nas últimas décadas do seculo passado, vem investindo na conquista de poder.

No seriado Os Simpsons, encontramos histórias de uma familia na qual as mulheres são as polticamente corretas, sendo que pai e filho, são pessoas equivocadas. O mesmo acontece com Os Silva, da familia dinossauro. Esta representação de familia, tem no imaginário dos paises da America do Norte e Europa, um impacto maior do que no Brasil. Porém, a desvalorização dos homens aqui, passa por uma duvida que gera um estado de vigilancia em torno da masculinidade, como se a qualquer momento, um homem pudesse perder a sua, quer seja de forma financeira, sexual ou por fraqueza fisica.
Isto tem levado muitos homens jovens a lançar mão da violencia, e do sexo, como ferramentas que atestam masculinidade. Para mulher, o modelo que serviu para o empoderamento, foi o do homem, branco e heterosexual. 

Este sujeito é considerado o grande beneficiado na historia do ocidente. Por esta razão, as mulheres passaram a reivindicar paridade de direito com os homens, os gays com o hetero e as demais etinias com os brancos. Homer Simpson é branco, heterosexual e homem. É desta representação que estamos falando.

Muitos homens brasileiros podem estar identificados com Homer, mas dificilmente irão partilhar este sentimento uns com os outros, por medo de serem vistos como fracassados. No Brasil, Homer se traveste de valentão, bombado, sedutor irresistivel, esperto, malandro e todas as insígnias do estereotipo do homem tradicional. A derrota ronda cada um destes tipos, fazendo-os serem quem são.



6- Que impactos a nova configuração familiar terá sobre as novas gerações?


As novas gerações crescerão convivendo como diferentes arranjos familiares, o que favorecerá uma compreensão sobre o que seja multiplicidade e possibildade de se viver a vida. Todavia, isto só não basta, é importante que o modelo tradicional seja identificado e problematizado, mesmo dentro dos novos arranjos familiares. Nem tudo que é tradicional é ruim. Uma crítica deve ser feita, mesmo dentro das novas familias, que me parece, vem perdendo a capacidade de serem críticas em relação a elas mesmas.

Fazer parte de um novo formato de familia, não atesta que as representações tradicionais tenham sido problematizadas. É preciso ter cuidado quando se fala do que seja o novo, quando as representações sociais de homem e mulher, pai e mãe não mudaram, mesmo que a familia em questão seja formada por pessoas do mesmo sexo.

A quantidade de separações tem deixado uma impressão ruim a respeito das uniões. As relações duram cada vez menos. É um desafio ser jovem na cultura do divórcio, onde não se acredita que seja possivel formar e fazer durar um vinculo, sem comprometer a sede de prazer imediato.


7- O ditado: “quando o pai falta, o filho manca” se aplica à família do século XXI?

Em uma época de reprodução assistida, liberdade sexual e direito ao aborto, a paternidade tem deixado de ser algo de valor. Isto acontece menos pelo valor que a mesma tem para os filhos, e mais por conta de uma compreensão limitada que se tem dela, em tempos de consumo e entretenimento.

Eu escrevi uma materia para um jornal do Rio de Janeiro, sobre adoção, realizada por casais do mesmo sexo. Fui para os EUA para cobrir eventos que tratavam deste assunto. Dentre as entrevistas que fiz, uma delas me chamou atenção.

Uma mulher de 20 anos nasceu em uma familia formada por duas mulheres. De uma delas foi retirado um óvulo que depois de fecundado in-vitro, foi inseminado na outra mulher, que gerou uma filha. O sêmen foi pego em um bando de doadores. Estávamos no final dos 90. Quando conversei com esta mulher, ela me contou que suas mães haviam se separado, e que ela já não morava mais com nenhuma delas, porque estava na universidade.

Eu lhe perguntei o que estava escrito em sua certidão de nascimento, e ela me disse que aparecia o nome das duas mães. E no do pai? Ela me respondeu: no lugar do nome do pai está escrito D.I. ( donor insemination).

Creio que isto revela uma parte do que vem acontecendo com a representação paterna, nos dias de hoje.


8- Que análise pode ser feita do fato de que a maioria dos casais gays é formada por mulheres?


O imáginario atravessa todos que fazem parte de uma cultura. Não importa qual seja o tipo de classificação, que ela atribua aos individuos. No Brasil, maternidade e feminilidade estão associadas ao sujeito empirico mulher. Creio que a ideia de ser mãe, passe de algum modo pela mulher, de tal maneira que a mulher acaba desejando ter filhos, mais do ocorre nas uniões formadas por homens.

Eu estava em São Francisco, para um curso. Conheço a cidade, e sei que ela tem uma ambiencia de diversidade, no mais extenso que esta palavra possa representar, e não apenas do ponto vista sexual, como ficou associada no Brasil.

Castro é o nome do bairro onde a comunidade gay vive. O que me chamou atenção, foi o fato de que na parte do bairro onde moram os homens, era raro encontrar uma mulher. O mesmo acontecia com a parte reservada as mulheres, lá não se via homens. Bem, até ai, nada demais. Contudo, as imagens que a cultura usa para representar masculinidade e feminilidade, estavam lá. As mulheres andavam, e se vestiam em sua grande maioria como homens, e os homens, lançam mão do que havia ficado estabelecido como feminino. Quando existia alguma alusão a masculinidade, esta se referia ao mundo tradicional dos homens: cowboy, couro, militares eram vistos nas ruas e vitrines.

O que percorre o imaginário de uma cultura, atribuido a homem e mulher, continua existindo tanto em uniões do mesmo sexo, quanto de sexo diferente. Com todas as mudanças ocorridas na última década, não houve uma reinvenção do que signifique ser homem e mulher. O que encontramos é uma autorização social para que cada qual, possa experimentar o que tradicionalmente estava atribuido ao outro sexo.


PORQUE É DIFICIL ENVELHECER NO BRASIL


No Brasil, é mais difícil suportar a exigência de se manter jovem, porque para isto, é necessário aceitar que a verdade sobre as coisas não existe, e que o mundo é mais complexo do que lhe mostra a propaganda ou a televisão. A juventude aqui, é apresentada como se fosse a verdade através da qual se consegue visibilidade, estima e aceitação social. Jovem é sinônimo de produção, funcionalidade, sucesso e felicidade.

Vivemos em um pais que valoriza a ação, em detrimento da reflexão, bem como, funciona mais na extroversão do que introversão. O futebol e o carnaval, são exemplos disto.

Brasileiro sozinho é mal visto, e por isso, passa maior parte do tempo dentro de algum grupo. A longa dependencia da familia, a demora para se emancipar emocional e financeiramente, colaboram para que não aprendam a ter opinião própria, e dependam do que lhe diz o grupo do qual faça parte, pelo receio dele ser excluído ou estigmatizado. O brasileiro respeita pouco as diferenças individuais, julga com mais rapidez do que produz uma análise sobre os fatos. As pessoas acham que serem elas mesmas é dizer o que lhes vem a cabeça, debochar e não ter restrições quanto a seu prazer. A capacidade crítica, passa ao largo de tudo isto.

Há uma expectativa de que o indivíduo concorde com o grupo, seja ele família ou grupo social, e que se mantenha sem críticas em relação a ele. A cordialidade do brasileiro muitas vezes, inibe sua capacidade de argumentar, porque aquilo que ele evita dizer na frente, dirá pelas costas para manter a cordialidade. Esta atitude é comum entre políticos. 

Aqui todos tem uma opinião para dar sobre tudo, mas são poucos os que conseguem desenvolver um ponto de vista sobre o que se conversa: "eu acho isto" , ou,  "eu não acho isto", mas se você quiser saber como se chegou a esta conclusão, corre o risco de escutar: se você não concorda comigo, é porque é contra mim .

Vivemos em uma cultura que há pouca, ou quase nenhuma distinção, entre o público e o privado. O que leva uma enorme quantidade de pessoas, a tomar qualquer comentário como pessoal, gerando mal estar ou discussão. Por este motivo, "o que os outros vão pensar a meu respeito" é levado em conta, e com isto, a crítica sucumbe. 

Para envelhecer, sem ceder a pressões do mercado ou morais, o sujeito precisa relativizar tudo o que foi dito a ele como certo, como sendo bom e o esperado. É necessário saber que pode viver por própria conta, que seus argumentos são apenas uma parte dos muitos possíveis, e que, mesmo que não concorde com os argumentos de outros, deve respeita-los, pois assim, respeitará a si mesmo.

Envelhece melhor que reconhece a existência de um Eu e de um Tu, e não apenas de dois "Eus". Ainda é difícil envelhecer no Brasil.

SANIDADE


Só eu os vejo assim.
Deixa-me insanidade, pois
Perturbas quem olha para os meus pés
E sente a pele cortada pelos

Desejos que os puros querem se livrar.

Fui vencido pela palavra
Que tirou de mim o delírio
Deixando-me apenas as horas,
Que espero para tira-lhes dos pés.
Eles que me faziam esquecer quem sou.

Sai de mim insanidade,
Pois já não posso mais dizer que
És Satanás, nem um outro qualquer
Seja a razão destas botas nos pés.

Em Tebas estive, mas não me recordo
De tê-los colocados ali.
Se afasta de mim insanidade, tu que nem nome tem

Mas que chamo todos os dias.
Para me acordar
Dos horrores deste mundo
E me lembrar de que,
Minha natureza, é atravessada por ele também.

SN

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

DO MAL USO DA CRENÇA


A ilusão cumpre uma função para o psiquismo: ela sustenta a crença, de qualquer tipo. A ilusão, assim como a crença, servem como dispositivos usados para fazer esquecer, ou para evitar o contato com o que não se quer p
ensar. Acreditar para esquecer o que a ilusão se presta a manter: no mundo existem bons e maus, certos e errados, imbecis e sábios.

A divisão que existe dentro de cada um, a ilusão tenta cauterizar, ao lançar mão do ódio para fazer frente ao que ameaça a crença no homem puro. Mas, se não há pureza em "adam", de que pureza se fala?

O nojo e a pureza funcionam lado a lado, como seguranças da crença de que se sobrevive a morte. Isto é tão importante, que mata-se por este motivo. Sem sua crença, aquele mortal desespera-se, pois pior que aceitar a idéia da morte é tolerar a do desaparecimento.

sábado, 15 de setembro de 2012

MASSA E MANIPULAÇÃO.


Caso queira juntar o que esteja partido, arranje um inimigo, faça-o ser odiado, mantenha o ódio por ele, e assim, o que está quebrado, ilusoriamente se junta. 

Um video de origem até agora indefinida, mas com intenção def
inida: despertar o ódio, é apresentado como tendo sido feito pelo inimigo. Depois da primavera, os distintos grupos presentes no mundo árabe acirram a tensão entre eles. É hora de lançar mão do ódio para alterar este quadro.

A rapidez com que 20 embaixadas foram atacadas, chama atenção pela seguência temporal com que foram incendiadas. As divisões internas são apaziguadas, e novamente se tem UM POVO.

É curioso como a manipulação está ligada ao desejo de SER UM TODO, e como o ódio serve de catalizador a isto. Todavia, nada seria possível, caso faltasse um inimigo, pois, só mesmo ele, para salvar a ONIPOTÊNCIA do pensamento quando esta fraqueja diante da constatação da IMPOTÊNCIA e LIMITAÇÃO.

O QUE UM VENCIDO QUER? SE TORNAR VENCEDOR.

SN

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

FIM DE ANALISE

FIM DE ANÁLISE.

Do modo como ele me descreveu a tela, eu não pensei que estivesse falando de Bosch. Eu havia visto este quadro no Prado e nada do que ele disse se correspondia a impressão que a tela me causara. 

Juliano havia sido um analisando querido. Eu o acompanhei em diferentes momentos de sua vida. Inteligente, culto, afetivo e muito empenhado para fazer um bom uso de sua análise.

Neste dia, ele chegou a sessão falando a respeito de como uma tela havia lhe ajudado a 
sintetizar o trabalho que ele havia proposto a fazer consigo mesmo. Disse-me ele:

" Por alguns instantes, eu pude ver quem eram as pessoas que estavam diante de mim. Vi a família que eu gostaria de ter tido, a alegria com que se relacionavam entre si, as pausas e as trocas que faziam uns com os outros. Dentre eles, duas irmãs conversavam sem medo, inveja ou competição. As palavras ditas seguiam sem travas. Ali, no mundo, existia o que eu gostaria de ter vivido. Anteriormente eu me sentiria um cara de segunda classe, lembra?
Mas desta vez não. A falta do que eu gostaria de ter tido, não tirou de mim a alegria de poder saber através do outro, que posso encontrar o que procuro no mundo. Sem ressentimento, mágoa ou tristeza.
Era deste modo que eu olhava para cada um dos personagens deste quadro."

Quando ele me disse que se tratava do Jardim das Delícias, eu percebi que ele havia conquistado a autoria de sua vida. Sua análise havia terminado ali, eu ele diante de um jardim vivo.

SN

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

PARAÍSO


PARAÍSO

Se o paraíso fosse criado nos dias de hoje, a serpente deprimiria porque não conseguiria seduzir ninguém. Neste paraíso, ela não teria quem recrutar, pois todos já teriam sido seduzidos por si mesmo.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

domingo, 9 de setembro de 2012

SEXUALIDADE

Freud, antes de escrever sobre a sexualidade infantil, pensou a sexualidade como um tema associado as neuroses. A questão é que a SEXUALIDADE continua sendo um grande enígma para os seres humanos. Reduzida as classificações hetero, homo e seus variantes, o que chamamos de sexualidade, está longe de se limitar a pratica sexual. Lacan a remeteu ao gozo, tentando fazer jus a toda sua extensão. 

Todavia, também a encontramos associada a violência, ao preconceito, a 
moralidade, ao temor e a normalidade. Isto, nos mostra o quanto os contornos de cada um são mais indefinidos do que se pensa. Homem e mulher, por exemplo, são conjecturas mais do que certezas, pois o que, além do sexo, nos faz acreditar que somos homem ou mulher? Se os contornos acerca de si mesmo estivessem definidos, que importância teria a maneira como o outro vive o que chamamos de sexualidade? Se for mesmo verdade que é possível eu estar certo de quem sou, por que me importaria como o outro vive sua própria vida?

Tentar dizer o outro usando as próprias vistas, é mais defender-se de si mesmo, do que poder explicar quem está diante de mim.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O EGO


IMAGINARIO E ELEIÇÕES CARIOCAS 2012


IMAGINÁRIO E ELEIÇÕES CARIOCAS

Lacan, já em 1949, apontou o estágio do espelho do espelho como formador da função do ego. Ver-se onde não se está, pode ser pensado como um desdobramento narcísico. O NARCISISMO foi repensado por Lacan, tendo uma importancia em seu pensamento.

As campanhas políticas, texto e imagem, funcionam como um espelho através do qual o eleitor se vê onde não está. O voto, como um fetiche viabiliza esta cena psíquica. Um exemplo disto, encontra-se na embalagem que os candidatos usam para se apresentarem. Elas trazem em si um elemento de salvação: "eu tirarei você da nojeira em que se encontra esta sociedade, o resgatarei pois és puro." Esta idéia comum, tem um efeito e leva aquele que a usa a ter sucesso em sua empreitada.

Lula ganhou uma eleição operando com estes registros. Mas todo aquele que se apresenta como salvador tem seus dias contados por um "mensalão".

No Rio de Janeiro, um candidato desponta com forte apelo especular. Em torno dele, uma mobilização narcísica se faz. A cena narcisica em torno da qual Freixo instalou sua imagem, se vale de muitos egos ideais. Ideais politicos são usados para tornar egos cada vez mais narcísicos.

Hoje, no Globo, há uma matéria sobre um novo EX-APOIADOR de Freixo: Berg, o nordestino, envolvido com as milicias. Semana passada, Freixo, estava envolvido com um outro APOIADOR, Babá, o incendiário de bandeira.

Quem estiver isento emocionalmente desta campanha e puder pensar no que está acontecendo, verá através dos esclarecimentos dados por Freixo e seus correligionários, que as informações sobre o ocorrido não tem uma mesma versão. Mesmo que tenham "demitido" Berg, o PSOL agora nos permite ver do que é feito seu SINTHOMA: santo, santo, santo é o senhor do universo.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

ANONIMATO

O anonimato desapareceu. Não há mais um lugar no qual não se possa ser visto. Tudo é feito para expor e localizar. A quietude é confundida com sinal de fracasso. Ela que permite a vida acontecer fora dos holofotes do controle que faz crer q
ue são sinais de fama. O corpo de cada um que era até então onde poderia-se estar sem ser observado, transformou-se em um corpo fabricado para ser observado. Ser para ser visto, é a prisão mais eficiente que se pode construir, pois preso e carcereiro são um mesmo. Nestes tempos, se tornar a cópia do que se convencionou ser uma celebridade, passou a ser o destino de cada um.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

50 ANOS

" Eu gostaria de acreditar que o que está diante de mim, corresponde ao que busca meu desejo. Deste modo, durante anos, eu passei uma rasteira em mim mesmo. 

Hoje, quando algo me interessa, penso que posso estar blefando se me faço acredit
ar que algo novo esta por vir.
O novo é o que mudava em mim, todos os dias, mas eu não percebia.

O idealizado se foi, deixando espaço para se estabelecer vínculos, cuja intimidade fluía sem medo ou pudor.

Neste dia eu completava 50 anos. Possivelmente, antes disto, algo desta ordem não poderia ter acontecido."

A VILA

" Certamente ele não sabia nada sobre isto. Por esta razão, se convenceu de que era tudo aquilo que negava em si mesmo. Você me pergunta se isto é possível?

É possível! Existem muitos como ele. Tantos, que eles até se esqueceram de que pas
saram a acreditar na mentira que contaram sobre eles mesmo. O interessante é que eles assumiram a mentira como verdade, e já não sabem mais o que é uma e outra.

A rua onde moram não poderia ser diferente, nem seus amigos. Nela havia um ar poluído, apesar de ser uma vila. Não sei se poderíamos dizer que era soturno, mas uma atmosfera híbrida e dissimulada circulava por ali.

Sim, eles eram os donos do lugar. Mas eu não saberia lhe dizer se isto é uma mentira ou verdade. Eles acreditavam que eram. Suas esposas caminhavam com um ar sóbrio, para impressionar apenas, pois havia um exagero naquele passo.

Eu penso que a petulância, e o senso de superioridade, vinham do desatino contido de não saberem quem são, ou melhor, de não arriscarem a ser nada, para que mantenham o silêncio sobre eles mesmos."