sábado, 20 de abril de 2013

"ELES ERAM SIMPÁTICOS, NÃO PARECIAM TERRORISTAS."


Lendo as matérias sobre os irmãos Tsarnaev, penso nos Irmãos Karamazov e no modo como a literatura e as bombas de Boston tem a ver com o pai. O pai Karamazov era um sujeito que só via a si mesmo, se valendo de sua autoridade, justificava todo tipo de perversão. Retratando uma Rússia decadente, sem princípios e direção, Dostoievski mostra que a decadência que se vive se instala primeiro dentro do sujeito, para depois se espalhar para o mundo que o rodeia.

O pai (e a mãe) dos Tsarnaev, disse que o FBI armou para seus filhos. Apesar de ambos estarem armados, trocarem tiros com a policia, matar um policial e roubar uma loja, a mãe diz:"isto é uma armação."

A Tchetchênia, de onde os irmãos saíram, é uma região que pertence a Federação Russa, mas que desejam se separar dela. Isto tem levado a ataques terroristas em várias partes do mundo. No ano de 2002, tchetchenos fizeram 50 pessoas reféns em um teatro de Moscou.

"Eles eram pessoas admiráveis", disse um dos entrevistados. Terroristas e assassinos, não tem cicatriz no rosto, barba por fazer nem cheiram mal. Esta imagem que pertence ao imaginário, se contrasta com a da realidade. Terroristas usam grifes, estudam, trabalham, tem amigos e matam pessoas. Tentar encontra-los em manuais de psiquiatria ou psicologia, é o mesmo que pensa-los fora do cotidiano em que vivem. Existem variações de graus quanto a explodir uma bomba e pintar uma pessoa de amarelo, colocando em seu pescoço uma placa onde se lê escrava, ou ainda, urinar dentro de uma piscina e mandar calouros entrar dentro dela, ou ainda, fazer um juramento negando-o. Mas, entre a bomba e a urina, encontraremos jovens que acreditam na morte e humilhação de pessoas. Isenta-los da responsabilidade pelo que fizeram é negar de que modo a decadência se instalou dentro de ambos. Submeter o outro diante de uma conquista, fazendo-a menor do que é, ou ainda, negando-a, é um ardil da inveja que serve para baixar o temor de se tornar ultrapassado. Isto não é novo, Fiódor Pavlovitch Karamázov, pai de Dmitri, Ivan, Alieksêi e do bastardo Pável, era um homem egoísta, sem princípios éticos e morais, contudo, detentor de recursos que o permitia exercer poder e acessibilidade.

Poder mantido pela inveja de constatar que existe um lugar melhor para se viver, do que aquele onde viviam os Tsarnaev. Um lugar perfeito? Não, longe disto, mas um lugar melhor. O pai karamazov se contrasta como os dos terroristas de Boston. Um exercia sua potência destruindo a vida dos filhos, o outro se fazia menor do que eles, conferindo-lhes atributos que eles não tem: "são inocentes".

Os alunos da PUC/ RJ quando debocham do juramento, bem como, os da UFRJ que mandam calouros entrar dentro de uma piscina de urina, mostram que tem um parentesco com seus primos de Boston. Todos eles descendem de uma linhagem de pais frágeis e que os fazem crer que são melhores do que são. Neste equívoco, nasce uma tragédia fundada no crime.

SN