quinta-feira, 13 de setembro de 2012

FIM DE ANALISE

FIM DE ANÁLISE.

Do modo como ele me descreveu a tela, eu não pensei que estivesse falando de Bosch. Eu havia visto este quadro no Prado e nada do que ele disse se correspondia a impressão que a tela me causara. 

Juliano havia sido um analisando querido. Eu o acompanhei em diferentes momentos de sua vida. Inteligente, culto, afetivo e muito empenhado para fazer um bom uso de sua análise.

Neste dia, ele chegou a sessão falando a respeito de como uma tela havia lhe ajudado a 
sintetizar o trabalho que ele havia proposto a fazer consigo mesmo. Disse-me ele:

" Por alguns instantes, eu pude ver quem eram as pessoas que estavam diante de mim. Vi a família que eu gostaria de ter tido, a alegria com que se relacionavam entre si, as pausas e as trocas que faziam uns com os outros. Dentre eles, duas irmãs conversavam sem medo, inveja ou competição. As palavras ditas seguiam sem travas. Ali, no mundo, existia o que eu gostaria de ter vivido. Anteriormente eu me sentiria um cara de segunda classe, lembra?
Mas desta vez não. A falta do que eu gostaria de ter tido, não tirou de mim a alegria de poder saber através do outro, que posso encontrar o que procuro no mundo. Sem ressentimento, mágoa ou tristeza.
Era deste modo que eu olhava para cada um dos personagens deste quadro."

Quando ele me disse que se tratava do Jardim das Delícias, eu percebi que ele havia conquistado a autoria de sua vida. Sua análise havia terminado ali, eu ele diante de um jardim vivo.

SN