quinta-feira, 7 de junho de 2012
PINTURAS
Algo estava acontecendo, mas eu não sabia exatamente o que havia deflagrado. Por alguma razão, eu via o outro como uma pintura feita por mim mesmo. Como se ele fosse uma tela itinerante, sobre a qual meu desejo se manifestava.
Bem, você pode imaginar quantos desentendimentos ocorreram por conta disto: ter diante de mim alguém que eu pensava ser outro, mas que no fundo era eu mesmo.
A sedução se prestava bem a este papel, pois quando ela acontecia, o que eu projetava sobre a tela, ganhava vida, movimento, como se fosse real. Era uma ilusão doce.
Com o tempo a pintura foi desaparecendo, por alguma razão, fui me desinteressando de uma pintura feita nestas condições. Vieram os dias sem graça, aqueles em que eu via apenas telas brancas se deslocando de um lado para outro nas ruas. Confesso que depois de um tempo, me divertia, brincando de associa -las a personagens de meus filmes preferidos. Telas são boas para isto.
Comecei a conhecer o outro, quando passei a ser, a um só tempo, tela e pintor de mim mesmo. E o outro, alguém que escolho como quem quero estar.
SN
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